Volta e meia, vozes importantes
erguem-se e falam de suas frustrações ao constatar
a extraordinária dependência das
pessoas, em relação ao que se convencionou chamar de mídia
social. Esquecem-se de que na comparação dos séculos,
grandes inovações foram assimiladas, e
a Terra continuou em seu eixo. Primeiro, vieram os correios levando cartas e
telegramas a famílias, amigos e
inimigos, enamorados, e amantes. Mais tarde, veio o rádio,
transmitindo recados entre os ouvintes de determinado programa, em geral de música
sertaneja e romântica. Entregava saudosas
lembranças de mães a filhos e
maridos, ou apaixonada mensagem a namorados, que haviam partido em busca de melhor
sorte em outras terras. O serviço, por ser público,
recomendava cuidadosa escolha de palavras a fim de preservar a necessária
discricao e, nao causar embaraços.
Hoje, aí
estão o Facebook, o twitter, o Instagram, para ficar nestes, entregando mensagens
e imagens por todo o mundo. É impressionante o
frenesi com que as grandes empresas do ramo, tentam inovar e, assim atrair clientes
para que estes utilizem seus serviços. É
tambem frénetica, a maneira como as pessoas buscam
e se entregam a novidades que, muitas vezes, nem são bem novidades mas, diferentes
maneiras de apresentar as mesmas coisas. Esse enorme movimento que tomou conta do
planeta, onde empresas despejam no mercado massivas quantidades de eletrônicos
e, bilhões de pessoas
cabisbaixas põem-se, então, a dedilhá-los;
é isso que tem provocado alertas, as
vezes irados, das tais vozes importantes. Tem razão estas, quando apontam para
claras e graves incoerências. Por um lado, as
pessoas não suportam a solidão e, tal como um náufrago
social, enviam garrafas ao mar, escancarando publicamente seu estado
de espírito, alegrias e contrariedades, boa parte das vezes com
imagens e sons. Por outro lado, trocam a boa conversa,
o agradável mistério de um olhar, o toque amigo de mãos, a emoção do timbre de uma voz
humana, amiga, pela companhia de algum artefato eletrônico,
que esses são muitos. Estranho mundo...
Não bastasse isso,
no diuturno garimpar por mensagens e novidades, é inevitável deparar-se
com imagens e textos que entristecem, desanimam e amargam o dia. É
verdade que o cardápio é variado e, em certo
grau, permite escolha: Há piadas de bom espírito, outras
sem graça alguma. Anedotas, xaradas, imagens com truques visuais
onde é necessário encontrar o gato,
um menino, um velho e, se vc não encontrar, é
porque não esta preparado; sabe-se lá preparado
para que... belíssimas e inexistentes
paisagens, só possíveis com truques de
computador. Confissoes de fé,
de desânimo, sortilégios, busca de pessoas
extraviadas, ação entre amigos
para levantamento de fundos para desgraçados e miseráveis de
toda sorte, rezas de poder certo, ofensas de compreensão reservada as
partes litigantes, desinteligências afetivas,
frases de alento e ânimo, denúncias
de ataque ao erário por parte de políticos, imagens e estórias de
crimes hediondos... mulheres nuas em variados estados de conservação
e decomposição, figuras andróginas e etéreas,
indefinidas... Imagens malignas, notícias de morte de um ente, as vezes querido,
outras vezes, de tardio e ansiado desaparecimento... lamentos, desalentos e ânimos,
enfim, um mercado persa de emoções de toda cor e
calibre. Tudo isso, muitas vezes, em escrita que atropela as
mais comezinhas regras gramaticais; um
verdadeiro dialeto nunca antes escrito.
Apesar de tudo, entendo
ser isso de indiscutível validade, já que
mostra um retrato, antes camuflado, da sociedade. É
o submundo, antes ignorado, indesejado que, agora, se adianta e mostra sua face
grotesca. Também, supostos ilustres cidadãos, debaixo
dos holofotes da midia social, já nao escondem os trazeiros rasgados de suas
calças, e são expostos para escárnio público. Ajuda muito a
entender a violência que, com preocupante frequência, explode ao
nosso lado. Mostra a razão de termos uma sociedade aparentemente
benigna, que produz uma realidade maligna. Finalmente, pessoas de todos
os níveis sociais, credos e poder financeiro, tem voz e vez. E, boa
parte dessas vezes, o que essa voz fala e urra, é desagradavel e
assustador. Torna clara a linha que divide uma sociedade composta de pessoas de
raros princípios, princípios nenhum e, outras que, prisioneiras
de seu tempo, simplesmente recusam-se a compreender que, a verdade de ontem
tornou-se a dúvida de hoje, e a incerteza de amanhã.