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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tudo pelo social!

Volta e meia, vozes importantes erguem-se e falam de suas frustrações ao constatar a extraordinária dependência das pessoas, em relação ao que se convencionou chamar de mídia social. Esquecem-se de que na comparação dos séculos, grandes inovações foram assimiladas, e a Terra continuou em seu eixo. Primeiro, vieram os correios levando cartas e telegramas a famílias, amigos e inimigos, enamorados, e amantes. Mais tarde, veio o rádio, transmitindo recados entre os ouvintes de determinado programa, em geral de música sertaneja e romântica. Entregava saudosas lembranças de mães a filhos e maridos, ou apaixonada mensagem a namorados, que haviam partido em busca de melhor sorte em outras terras. O serviço, por ser público, recomendava cuidadosa escolha de palavras a fim de preservar a necessária discricao e, nao causar embaraços.

Hoje, aí estão o Facebook, o twitter, o Instagram, para ficar nestes, entregando mensagens e imagens por todo o mundo. É impressionante o frenesi com que as grandes empresas do ramo, tentam inovar e, assim atrair clientes para que estes utilizem seus serviços. É tambem frénetica, a maneira como as pessoas buscam e se entregam a novidades que, muitas vezes, nem são bem novidades mas, diferentes maneiras de apresentar as mesmas coisas.  Esse enorme movimento que tomou conta do planeta, onde empresas despejam no mercado massivas quantidades de eletrônicos e, bilhões de pessoas cabisbaixas põem-se, então, a dedilhá-los; é isso que tem provocado alertas, as vezes irados, das tais vozes importantes. Tem razão estas, quando apontam para claras e graves incoerências. Por um lado, as pessoas não suportam a solidão e, tal como um náufrago social, enviam garrafas ao mar, escancarando publicamente seu estado de espírito, alegrias e contrariedades, boa parte das vezes com imagens e sons. Por outro lado, trocam a boa conversa, o agradável mistério de um olhar, o toque amigo de mãos,  a emoção do timbre de uma voz humana, amiga, pela companhia de algum artefato eletrônico, que esses são muitos. Estranho mundo...

Não bastasse isso, no diuturno garimpar por mensagens e novidades, é inevitável deparar-se com imagens e textos que entristecem, desanimam e amargam o dia.  É verdade que o cardápio é variado e, em certo grau, permite escolha: Há piadas de bom espírito, outras sem graça alguma. Anedotas, xaradas, imagens com truques visuais onde é necessário encontrar o gato, um menino, um velho e, se vc não encontrar, é porque não esta preparado; sabe-se lá preparado para que... belíssimas e inexistentes paisagens, só possíveis com truques de computador. Confissoes de fé, de desânimo, sortilégios, busca de pessoas extraviadas, ação entre amigos para levantamento de fundos para desgraçados e miseráveis de toda sorte, rezas de poder certo, ofensas de compreensão reservada as partes litigantes, desinteligências afetivas, frases de alento e ânimo, denúncias de ataque ao erário por parte de políticos, imagens e estórias de crimes hediondos... mulheres nuas em variados estados de conservação e decomposição, figuras andróginas e etéreas, indefinidas...  Imagens malignas, notícias de morte de um ente, as vezes querido, outras vezes, de tardio e ansiado desaparecimento... lamentos, desalentos e ânimos, enfim, um mercado persa de emoções de toda cor e calibre. Tudo isso, muitas vezes, em escrita que atropela as mais comezinhas regras gramaticais; um verdadeiro dialeto nunca antes escrito.


Apesar de tudo, entendo ser isso de indiscutível validade, já que mostra um retrato, antes camuflado, da sociedade. É o submundo, antes ignorado, indesejado que, agora, se adianta e mostra sua face grotesca. Também, supostos ilustres cidadãos, debaixo dos holofotes da midia social, já nao escondem os trazeiros rasgados de suas calças, e são expostos para escárnio público. Ajuda muito a entender a violência que, com preocupante frequência, explode ao nosso lado. Mostra a razão de termos uma sociedade aparentemente benigna, que produz uma realidade maligna. Finalmente, pessoas de todos os níveis sociais, credos e poder financeiro, tem voz e vez. E, boa parte dessas vezes, o que essa voz fala e urra, é desagradavel e assustador. Torna clara a linha que divide uma sociedade composta de pessoas de raros princípios, princípios nenhum e, outras que, prisioneiras de seu tempo, simplesmente recusam-se a compreender que, a verdade de ontem tornou-se a dúvida de hoje, e a incerteza de amanhã.