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by Piresvs |
Se um dia, atento geólogo examinar com cuidado as paredes íngremes, de decidida verticalidade, do imponente Pico do Itabira, irá ali encontrar as marcas de meu espantado olhar de menino. A gigantesca rocha ergue-se quase meio quilometro em direção ao céu, como houvesse furiosamente rompido a superfície, depois de impetuosa viagem desde as profundezas da Terra. Não bastasse a pétrea realidade de sua presença monumental, o Itabira é cercado de lendas desde sempre... Em minha infância, dizia-se ser a pedra, oca, de imenso vazio impossível de ser explorado; vazio este que desafiava as então inigualáveis tecnologia e ciências americanas... Nunca soube com certeza se o Itabira é mesmo oco. Para mim, ele sempre foi cheio. Cheio de fantasias, mistérios e encantos. Um tio meu, filho adotivo de minha avó, depois de criado foi viver ao pé do Itabira. Das grandes perdas que contabilizo da infância, entre elas está a de nunca ter mantido contato maior com esse parente, salvo uma longínqua e solitária visita, de data incerta e já completamente extraviada na memória. Lembro dos muitos e altos pés de manga e da, então ainda existente, espessa mata atlântica a encobrir a visão completa a qual esperava eu ter do Itabira, depois de longa caminhada até o sitio de meu tio. Anos mais tarde, eu iria aprender que, grande parte das poucas coisas realmente boas da vida, aprecia-se melhor a distância... Eu, menino, não percebi a lição que a solida pedra ali a mim ministrava, desde sua milenar certeza.
Hoje, vi entre fotografias de um certo primo, o velho e singular granito, sempre altivo, certo, impassível e absoluto, sábia e eternamente a apontar para o céu. Já não tem mais tanta mata a sua volta, a emoldurar seu escuro corpo. Não precisa dela. Vive de si e, nada mais. Como sempre aconteceu, ainda que em foto, meu olhar nela fixou-se por um tempo e, depois se foi, insaciado em minha eterna admiração e respeito pelo Itabira. Tenho a esperança de, um dia, la voltar. O que não tenho, é a força e a resistência ao tempo, qualidades as quais sobra a "Pedra de Pé", nome traduzido do tupi-guarani. Se acontecer de eu cair antes, espero que me seja concedido o ultimo desejo de la passar e reforçar as marcas de meu olhar de menino diante da simplicidade bela e sem fim da velha Pedra.