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sábado, 31 de dezembro de 2011

A Arte da Navegação...

Mais um porto, o 2012, nesse rio de águas rápidas e impossíveis, que não permite que se navegue contra a corrente; o Rio Tempo. No começo, é muito divertido; há quem reme e rume por você... Depois, você acha que é fácil, quer ir sozinho; até mesmo reclama que o Rio é lento... A viagem é bela e, as forças são todas suas... Quer dividir essas belezas com alguém e, a mágica do Rio e suas paisagens, inebriam. Disputa com outros navegantes a capacidade de achar melhores vias e rotas... As corredeiras fazem vítimas ao longo das águas e, quem as vence, aprende e ensina... Há os que chegam ao seu último destino, após vencer todos os redemoinhos e cantos das sereias e, as lembranças são seu maior prêmio. Que aventura! Repetiria tudo outra vez! Outros, suas últimas atracagens não são feitas em destinos felizes; Desengano, Amargura, Solidão... Uns poucos, corrigem a rota e, rumam aos portos da Humildade, do Arrependimento e, do Perdão onde, então, pacificamente, lançam definitivos ferros a águas que não cessam.  Mas, há aqueles que permanecem a lutar em  águas tristes e impiedosas. Arrebentam-se nas pedras e, soçobrassam em fossas abissais, sem chance de retorno ou socorro... Serão, um dia, dizem os Sábios do Oriente, içados ao porto da Divina Providência... Pode parecer navegação de cabotagem mas, requer capitães de longo curso... Feliz Ano Novo!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates e Compay Segundo

Morreu Sócrates. Sempre que ocorre uma morte, surge uma oportunidade para meditar sobre o sentido da vida. Especialmente, nas contradições nas quais, caprichosamente, esta nos envolve. Sócrates, como todos sabem, era médico; pediatra. Especializou-se em um ramo da medicina cuja função é preservar a vida de crianças. Suicidou-se lentamente, usando como meio de extinguir-se, hábitos perniciosos a sua clientela; o fumo e o álcool. O que leva um homem dono de portentosa inteligência e dons naturais, a auto-mutilar-se e impor-se morte certa e degradante? O leque de possíveis respostas pode se originar na alta fonte dos pensadores e filósofos alemães e gregos, na fluida mas insofismável doutrina budista ou, em botequins brasileiros onde Sócrates, com certeza, matou, afogados, muitos destes questionamentos. É possível que não haja uma só resposta e que, entre elas esteja o simples desencanto com a vida. A certeza de que tudo que aí esta, é uma repetição do capítulo de ontem - vide Salomão - e, assim, não vale a pena esperar o capítulo de amanhã. Sobre isso, cada um tem o direito de arguir o que melhor entender, porém, não tenha a ilusão de que seu argumento venha, de hoje em diante, mudar a compreensão da vida pelas pessoas, para sempre... As perguntas irão se repetir. A resposta, por mais verdadeira seja, não tem o poder de evitar que a pergunta volte a ser formulada no futuro, por diferentes pessoas. É da vida que as lições sejam aprendidas individualmente; daí a nossa eterna solidão, irmã gêmea da liberdade.
Fernando Henrique acaba de ter uma de suas frases incluídas entre as 10 maiores besteiras de todos os tempos; "Não vamos prometer o que não dá para fazer. Não é para transformar todo mundo em rico. Nem sei se vale a pena, porque a vida de rico, em geral, é muito chata". Parece-me lembrar de que ele tenha, realmente, feito esta declaração. Isto não importa; minha lembrança ou, não, é irrelevante. Aconteceu de ontem, antes da morte de Sócrates, eu estar escarafunchando o Youtube procurando por músicas cubanas, mais exatamente de Compay Segundo. Todo mundo que aprecia boa música, conhece o Buena Vista Social Club. Sabemos, há muitos outros, Pablo Milanés, por exemplo, entre os grandes músicos cubanos. Mas, fiquemos em Compay Segundo, um monstro no mundo musical, tendo, mesmo, inventado um outro modelo de violão, já que o original como o conhecemos, não era capaz de reproduzir a genialidade de sua música. A alegria estampada no rosto de Compay, vem da alma. É tocante vê-lo fazer apresentações em palcos cubanos de dolorosa pobreza. A falta de tudo, é gritante; desde simples bancos para os músicos, até, modestos que fossem, aparelhos de som e iluminação. A alegria que vem da alma de Compay, supre todas as ausências materiais. Uma vez, Compay disse que iria viver até os 115 anos. Não houve acordo. Foi obrigado a cumprir um contrato, ao qual ele não assinou, e mudou de endereço, já em seus 96 anos, indo apresentar-se em outras paragens. Compay atribuía sua longevidade a uma certa alimentação a base de carne de carneiro e, a boa qualidade do rum cubano, a qual eu, humildemente, endosso. Não como carne de ovelha, salvo depois de 12 doses de rum cubano. Sócrates, rico, bem formado, e seu apego-escravidão ao inferno da bebida e, a alegria de Compay vivendo e vencendo em meio a misérias de toda ordem, levam-me a crer que FHC não está de todo errado em sua declaração, o que reduz em muito a posição de sua frase no ranking das maiores bobagens já ditas. Arrisco sugerir que ele troque o radicalismo de "em geral" por "as vezes". Ou então, vamos admitir de vez que, o mundo é composto, em sua quase totalidade, de idiotas, já que essa mesma totalidade busca uma maneira de tornar-se rica e, materialmente provida. Prefiro ficar com duas frases terrivelmente corretas: Dinheiro não é tudo mas, é 100% (Falcão). "O caminho certo não é o da esquerda e nem o da direita mas, o do meio" (Buda). Enchamos o copo mas, vamos esvaziá-lo com vagar; saboreando, sem engasgar e, pagando pelo que se bebe.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

La Vecchia Signora

Visitei, recentemente, a Itália, mais exatamente, o norte da Itália; as regiões da Toscana e do Veneto. Tentar explicar o resultado de uma mescla que inclui uma arquitetura secular com um cenário natural deslumbrante, é responsabilidade da qual declino, preferindo, simplesmente, contar o que vi, a quem possa interessar meu deslumbre diante dos encantos de La Vechia Signora.
Pessoas conduzindo a cotidiana vida dentro de cidades muradas, andando por vielas que parecem mais antigas do que as pedras que as calçam, entrando e saindo por enormes e sisudas portas de madeira em edifícios construídos um ao lado do outro, sem intervalos, sem sol e sem lua, induz a conclusão de que tudo aquilo tem sido assim, desde tempos sem memoria...  As muralhas que cercam as velhas cidades, parece que as defenderam não somente do ataque de invasores mas, também, da ruína dos seculos passados e por vir, contra o que desenvolveram misteriosa imunidade.
Contrariando a dura frieza de suas muralhas, torres e vielas de pedra, há uma impar delicadeza nos arcos das entradas, janelas e passagens destas estranhas cidades. Suas igrejas, inúmeras e grandiosas, ostentam delicados detalhes nos contornos que adornam suas fachadas e paredes. A fina flor dos artistas florentinos, pacientemente, pintou nos tetos dos templos, a via tortuosa que conduz aos céus ou aos infernos. Apesar de tudo, acho que viveram melhores tempos, já que as modalidades pecaminosas sofreram extraordinário desenvolvimento até nossos dias. Tivesse, hoje, Giotto  recebido a incumbência de retratar as tortuosidades que levam o homem ao Paraíso ou a Hades e, os tetos da galeria Vittorio seriam insuficientes... Ai esta a razão pela qual hoje pixamos e grafitamos todos os muros de todas as cidades do mundo, a retratar os Infernos...
As muralhas não tinham somente a missão de proteger. Cercavam, juntos, gladiadores e leões... De maneira justa, o Tempo também preservou o testemunho da existência de corações, tao ou mais duros, do que o granito dos altares e túmulos, na presença ainda atemorizante das grandes Arenas... Comparada a estas, a pequenina varanda de Giulieta só ganha importância na genialidade de Shakespeare. De outro modo, não passaria de pequeno gueto, hoje pixado por pequenos vândalos, cujas demonstraçoes de amor - para desgosto de Romeo, sua amada e grande idílio - cabem em um tijolo rabiscado com letra ruim e ininteligível, nas paredes de onde, um dia, reza a lenda, viveram os Capuletis. O par, simbolo de amor em sua mais profunda demostração; a morte, recebeu merecido desagravo da industria automotiva italiana, na forma das "machinas" Alfa Romeo Giulia... 
Se, as "machinas" italianas sao inegável demostração da genialidade mecânica lombarda, em contraste, a forma como a maior parte dos italianos dirige, ao menos nas regiões que visitei, é manifestação pura de falta de educação e, diria mesmo, neurose em ultimo grau. Eu sei; é preciso cuidado com as afirmações, principalmente as generalizantes. Entretanto, depois de dirigir por mais de 3.000km por vias e auto-estradas, penso ter o direito de dizer que o tráfico paulista fica a dever a loucura italiana. São ruas pequenas, sem acostamento e, sem calçada, transformadas em rodovias, a ligar as comunes. Salvo no coração destas, a velocidade minima para não ter um maluco dentro de seu porta-malas, tem de ser de, no minimo 90km/hora, em uma viela que mal suportaria 50km/h... Devo ser honesto e dizer que, por incrivel que pareça, nao presenciei nenhum acidente. Devem ser neuróticos mas, excelentes motoristas...
Há uma lenda que diz serem os italianos mal educados no tratamento que dispensam aos turistas. Não encontrei nenhum. Não sou nenhum lorde britânico mas, creio eu que, aquelas tais palavrinhas mágicas que a vovó ensinava, nao foram esquecidas pelos italianos que, as exigem de quem a eles se dirige. Soma a isso, ainda que simples gesto de boa vontade de minha parte, a tentativa (inútil) de falar em italiano... Eles lhe darão o crédito e retribuirão com cortesia insuspeita...
Meu amigo Caetano contou-me que seu pai lhe dava o bom aviso de que a Itália é um dos "jardins do mundo". Tem toda razão. Ao que vi, ao que dizem, ao que silenciam, posso afirmar que a Itália é, de fato, linda... As vezes, dolorosamente linda no testemunho de seus cemitérios e monumentos aos que tombaram, em tantas guerras, nas inúmeras tentativa inimigas de roubarem para si a Bella Itália... Ciao

sábado, 5 de novembro de 2011

Estimando o cão!

É um belo e estranho planeta esse em que vivemos. Nunca pensei em ver gente ir para a cadeia, por conta de maltratar bicho. Isso é bom, pois afinal há muita gente a andar em 4 membros, e a arrastar-se por esse mundo. Sempre haverá pessoas que entendem ser errado tratar animais com o mesmo respeito dirigido a um ser humano. É assunto complexo, decidir se os bilhões gastos com ração, deveriam ser destinados aos famélicos da Somália. Rasamente direi: Há muito dinheiro gasto de maneira irresponsavel. Se formos falar em alocação de recursos, creio que os destinados aos animais não devem ser os primeiros a ser tocados... Bem antes na fila, estão as rubricas destinadas aos corruptos... Mas, voltemos aos animais.
Quando garoto, criei alguns bichos de estimação. Admito não lembrar se eu realmente os estimava. Sei que eram engraçados. Foram coelhos, cães, gatos, pássaros e, aves de briga. Sim; de briga mas, isso é uma outra história. Depois que comecei a participar da Confraria AA - Adultos Azedos - passei a ter ojeriza por animais domésticos, em geral. Não, não sou torturador de bichos, dissecador ou taxidermista. É que não gosto de animal que mora dentro de casa e, pula em mim, lambe, cheira com focinho gelado... Creio poder explicar melhor; de antemão agradecendo a paciência por parte do caridoso que está a ler. É como segue: As casas antigas, tinham espaço para bichos e gentes, nessa ordem. Acomodavam desde legiões de pulgas em velhos soalhos (alguns, foram pioneiros da modalidade "soalhos flutuantes", tanta era a infestação...), passando por Ratos de Porões em forros de madeira, até gatos e cães em varandas e quintais. E, ai está o bem que tinham as velhas casas: varandas e, principalmente, quintais. Eram nestes que as crianças tinham seus bichinhos, fossem êles de estimação ou de "judiação".Esta última palavra, utilizo com cirúrgico cuidado, não ensejando a mesma, nada mais que, a intenção de reproduzir a coloquialidade de uma era que esta a se extinguir... Lá, havia a "casinha do cachorro", o galinheiro, a "casinha do coelho-da-índia", a "casinha da lebre" a qual, genericamente, classificávamos como "coelho". Se algum bicho entrasse dentro de casa, era sumariamente expulso para o quintal com compreensível exceção feita as pulgas, sempre teimosas. Havia certa tolerância para com gatos junto ao fogão. Eram tempos difíceis e, muitas vezes, estes bravos felinos voluntariavam ser parte do cardápio. As gaiolas ficavam na varanda e, era um ritual infalível, ao anoitecer, removê-las para dentro de algum lugar fechado, cobri-las e, pela manhã levá-las de volta e pendurá-las na parede de velho reboque, que se esfarelava diante de um, simples, mal-humorado olhar... Por falar em olhar, era muito comum atar fitinha vermelha as gaiolas para evitar "quebranto", "mau-olhar", "inveja", e outros sortilégios que, se verdadeiros, fariam grande estrago em Brasília, trazendo enorme benefício ao povo. Mas, já que estamos a falar de animais; "...praga de urubú magro, não pega em cavalo gordo", perdendo a verdade o velho adágio, caso inverta-se a ordem dos animais nele invocados, de sorte que Brasília continuará impune, enquanto que o nanico cidadão está solto aos urubús. Muitos de meus amigos de infância, tinham outros animais em casa, tais como equinos, suínos, e aves maiores; patos, perus e assemelhados. Com o passar dos anos, eu crescí e, os quintais diminuíram; desapareceram. Foi assim que extinguiram-se muitos animais domésticos; extinção essa que nunca foi objeto de protesto de nenhuma entidade civil, religiosa ou, mesmo, militar, tratando-se do Brasil, um pais tão marcial. Humilde e obscuramente, esse blog, em primeira mão, denuncia o desaparecimento do coelhinho-da-índia de quintal, do galo-caipira de quintal, do coelho-de-quintal e, da pulga-de-soalho... Tenho testemunhas: desde minha adolescência, passei a libertar de gaiolas, todo passarinho que eu encontrasse preso. Soltei muita avezinha, cujo desaparecimento, até hoje é classificado como "inexplicável" pelo frustrado dono, que jura ter colocado a gaiola com a porta virada contra a parede. Meu maior feito foi, em uma chácara de um amigo, soltar toda uma passarada que estava presa nessas gaiolas construídas ao rés do chão... Foram, com certeza, dúzias de pássaros. Nunca comoveu-me o argumento de que, em liberdade, morreriam. A estes respondo: Também, um dia, morreriam presos... A História ensina que Patrick Henry disse "Give me Liberty, or give me death!". Não duvido que Patrick tenha dito isso mas, arrisco que deve ter roubado a frase de um pássaro engaiolado; provavelmente um tucano.

Jamais atingirei o nível de consciência necessário para fundar uma ONG e, defender urso polar, macaco-prego, ministro ladrão ou mico-leão. Entretanto, tenho uma certeza: A degradação da natureza humana é assustadora e não há ONG que possa mudar o rumo que nos leva a desatinado futuro. Qualidades inerentes a espécie como compaixão e fraternidade, estão a desaparecer da face da Terra a uma velocidade maior do que a devastação da floresta amazônica, vítima de queimadas e vaqueiros. Não vou lembrar da criança chinesa, atropelada duas vezes, enquanto 18 pessoas passaram por ela e, desviaram sem prestar socorro. Não vou falar de pai que joga filho pela janela de alto edifício. Não vou falar de psicopata que abusa de criança, mata e retalha o pequeno corpo destruído, depois de aterrorizá-lo até a alma. Tudo isso, em diferentes lugares desse Planeta Terra. Então, repito; não é certo desviar recursos destinados a dar existência digna aos animais. Mas, talvez, seja certo desviar nossa atenção para assuntos que estão a ameaçar a nossa própria espécie e, por tabela, todas as outras.

A Duquesa de Alba e o Plebeu de todos Nós


É verdade que a crise financeira pela qual passa a Europa, não poupou a Espanha. Ao contrário; veio para somar a, já então, longa lista de atribulações espanholas: alta taxa de desemprego, o fotoshop a copiar Velasquez quase a perfeição, redes de prostituições brasileiras, toureiros chifrados, mercado imobiliário em decadência, moinhos de vento, a Catalunha sempre rebelde, Messi, que fala espanhol mas, nasceu na Argentina e, outra injustiças divinas... E, foi em meio a todo esses desacertos que floresceu o amor outonal entre a Duquesa de Alba e Alfonso Díez Carabantes. Como era de esperar-se, graves suspeitas foram levantadas quanto a genuidade do amor de Carabantes pela Duquesa. Melhor assim; houvesse silencio e, este seria hipócrita. Afinal, Cayetana carrega 85 primaveras em seu currículo. Carabantes, embora não seja um Jesus Luz, tem toda a justa esperança de por aqui permanecer um pouco mais... Esta sólido em seus 60 anos e, exibe firmeza, ao menos nas fotos do matrimônio. Pacificando as línguas ferinas, previamente, a fortuna da noiva foi devidamente inventariada entre os herdeiros. Carabantes, discreto barnabé, nunca se casou e, não tem descendentes. Pá de cal sobre a pouca fé dos maldosos na imunidade do amor aos poderes vis do dinheiro, Afonso renunciou formalmente a qualquer parte no butim da Duquesa. Vindo do seio de modesta e laboriosa família espanhola, conheceu sua consorte na loja de antiguidades da mãe, largos 30 anos atrás. Reencontrou-a quando esta saia e, ele adentrava a uma sala de cinema. Afonso, sempre atrasado... Desde então, a amizade só fez crescer, culminando com a formal união, necessária para atender as convicções católicas de Doña María Del Rosário Cayetana Fitz-James Stuart y Silva. Se por um lado a frugalidade nos nomes dados a Afonso Diez Carabantes é reveladora da opaca vida de um profissional da previdência privada, por outro lado o quilométrico nome da duquesa revela não somente a movimentada vida de quem o carrega mas, também o de seus antepassados. Lá estão a nobreza espanhola, inglesa e francesa a misturar glórias e derrotas, virtudes e vergonhas por séculos passados e por vir...
O que lá vai no coração do plebeu e da nobre senhora, são segredos inescrutáveis que, talvez, nem eles próprios saibam. Pode ser que tudo não passe de uma simples manobra de vaidades e ambições. Pode ser mais uma traquinagem da vida a zombar dessa mania de querermos entender tudo que acontece a nossa volta. De verdade, só quem avançou por anos a fio nesta vida, é capaz de compreender que o novo sempre virá, mesmo dentro de corpos e corações envelhecidos... Vida longa ao casal!

Sapatinhos de cristal...

Fazia tempo que não me sentava para assistir um bom filme. Ontem, em família, assisti Cinderella, a qual, por ser bem criado, passarei a referir pelo seu verdadeiro nome; Ella. Acho uma maldade que vence, deixar que prevaleça o apelido que lhe deram, as maldosas irmãs... Ella prega incansavelmente a importância que tem a atitude de manter-se fiel a seus sonhos e objetivos. É o mantra de sua escrava vida, no que tem toda razão. Ainda que tardiamente, chamou-me a atenção o fato de os sapatinhos de cristal, dados a Ella pela magia da atrapalhada fada madrinha, não terem desaparecido juntamente com o vestido, a carruagem e, todos os outros aparatos de sonho com hora marcada para terminar; meia-noite. Sou uma pessoa simples, de pensamentos simples; gosto sempre de lembrar isto, tanto as pessoas que me dedicam estima, quanto aos meus detratores. Daí, ter ido eu dormir com essa dúvida aguda, a incomodar meu sono... Porque, digam-me lá sábios da Macedônia, da Pérsia ou do Gandois; porque os sapatinhos de cristal dados a Ella, sobreviveram a fatídica passagem da meia-noite? Teria sido uma simples falha dos roteiristas da Disney? Seria o príncipe um podólatra? Não, não pode ser. Nossos contos tão infantis, precisam resistir a essa devastadora onda devassa que, qual a tsunami asiático, tem varrido para fossas abissais nossos antigos e delicados sonhos de cristal...sonhos de noites de Verão, Outono, Primavera, Inverno e outras estações. Ultimamente, os sonhos só tem tido vez nas estações de TV...
Mas, voltemos a Ella e seus pezinhos em cristais... Tenho tendência a acomodar, a procurar solução e, se essa não estiver ao alcance, ao menos equacionar os problemas que a vida, a todos nós, traz. Negociei comigo mesmo, a idéia de que Ella tinha um sonho em sua moça cabecinha; ir ao baile do príncipe. Entretanto, nenhum sonho vai a nenhum lugar, se não tiver pezinhos que o carreguem. Os sapatinhos de cristal seriam a simbólica mensagem de que, todo sonho é concretizado na dura realidade do chão desta velha Terra. Por isso, só eles sobrevivem ao final do sonho; ao sinistro badalar da meia-noite de nossas vidas. Entretanto, é essencial lembrar que tudo começa com um sonho. Sonhe, sempre. A cabeça nas nuvens, mantendo os pés no chão, pois é nele que, mesmo mágicos sapatinhos de cristal irão se firmar, dando vida concreta ao sonho que alguém, solitário, quis dividir com todos...

domingo, 4 de setembro de 2011

Os Indignados...

Em meu blogg anterior, eu ia falar de sobre os indignados. Resolvi esperar pelo desfecho da votação na qual seria resolvido o destino politico da ladra-senadora que emporca o já desonrado Congresso e, constatar se restaria uma esperança qualquer a esse pequeno grupo de sobreviventes. Falava eu, então, sobre as combalidas forças do que deveria ser o Exército dos Indignados, hoje reduzido a guerrilheiros sem eira nem fronteira. Fui derrotado em minhas esperanças e, lá permanece a ladra-senadora, guarida que foi, na mesma alcova, por seus pares de profissão. Mais uma vez, aqui respondo a e-mail de velho, e indignado, professor:
Assisti ao vídeo de nome Comédias de Brasileiros. É de estarrecer a desfaçatez; é humilhante a certeza da impunidade; é patético o espetáculo mal ensaiado, tanta é a certeza do aplauso; é final a distância entre representantes e representados... Claro que a pergunta imediata é: O que fazer? E, se possível, quem irá fazer alguma coisa para corrigir essa montanha de escura podridão? Respondo a mim mesmo: Há que se fazer Justiça. E isto terá de ser feito por pessoa ou pessoas, interessadas em corrigir estes crimes. Então, procuro na cabeça cansada e incerta, quem teria interesse em corrigir esse delinquente Brasil? Desolado, constato que ninguém com Poder formal, seria candidato a esse cargo de proporções, literalmente, federais. O Poder vem de duas fontes cristalinas: Riqueza ou Força coercitiva. A segunda pode ser comprada pela primeira, e a primeira, tomada de assalto pela segunda. No Brasil, temos ambas alternativas sendo praticadas noite e dia.  Sim, noite e dia; dia e noite. A cobertura da madrugada já não se faz mais necessária. Faz parte de um passado honrado, a prática da subtração do alheio, sem que a vitima se apercebesse ou, muito menos, sofresse violência. Mas, voltemos a busca do paladino que poderia salvar o Brasil, começando com a Riqueza que, se não tem a Força, a esta pode adquirir por módico valor. Aos ricos, não interessa mexer neste cassino financeiro chamado Brasil. Ganham de todos os lados. Ganham no mercado acionário jogando sempre com aquelas cartas marcadas, Petrobras, BB, Vale, etc... ou ganham aplicando o dinheiro no país que pratica os juros mais altos do mundo. Tomam dólares no mercado internacional a praticamente ZERO de juro, trocam esses dólares no Banco Central, de quebra valorizando artificialmente o Real, e aplicam estes reais a, no mínimo, 6% a.a., jogada que não requer nenhum gênio financeiro para ganhar dinheiro fácil e, legalmente. Assim, dos ricos não podemos esperar ajuda para corrigir os desmandos. Ao contrário, são adversários, nessa peleja. Vamos então a Força coercitiva. Fora de questão ajuda do estrangeiro, pois que é de lá que vem grande parcela dos "investidores" no mercado brasileiro. Armínio Fraga com FHC, e Meirelles com Lulla, mostra a afinação  de nossa centro-esquerda e sua dupla personalidade, com a versão predadora do capitalismo. O primeiro, foi braço direito de George Soros, o financista americano que colocou o Banco da Inglaterra de joelhos, nos anos 90 e, o segundo, Meirelles, foi presidente do Banco de Boston, e em seguida, presidente de banco central na era Lulla. Aos pouco sinceros, prontos a defender o indefensável, de antemão pergunto: Houve condenações pelo Mensalão? Palloci conseguiu explicar a origem de seu patrimônio e, tomar posse? Então, por favor, sigamos adiante: Vamos apelar ao PCC? Trata-se de partido politico instável e exótico. Não tem regras definidas e, a  liderança é escolhida de maneira insólita e irregular. Iremos ter ao Partido "Verde"? Tiveram sua oportunidade e, deu no que deu. Não dispõem de quadros próprios que consigam fazer o país funcionar e, logo tem apelar para, justamente, o inimigo que derrubou ; Deu Fim, Malufos, ACMs, e outros nomes dos quais, só de lembrar, causam-me nojo; dirá escrever... De quebra, enfrentam deserções para o lado inimigo, seduzidos pela prática de adquirir Força com dinheiro e, não mais pelas divisas da caserna. Golpe militar só presta como ato de vingança e, todos sabemos; a vingança é um prato quente, sempre servido frio... Apelar para a elite intelectual? Ela está aí e, o atual estado de coisas, fala por si. Uma massa de intelectualoides que não produz uma única ideia aproveitável; está completamente descolada da realidade. Consumidores de toda sorte de drogas, confusos; gastam grande tempo da vida, tentando certificar-se qual é a opção sexual que melhor lhes satisfaz. Tem soluços intelectuais e, vez em quando, vomitam uma bobagem qualquer que lhes garanta popularidade. Unem-se as massas aviltadas pela miséria material e espiritual, somente quando necessitam de assunto para produzir algo "artístico"; novelas, raps, sambas, passeatas gays, e outros itens de grande relevância para a cultura nacional. De ordinário, querem distância destas, interessando-lhes delas somente a audiência e os aplausos... Quem mais nos resta apelar para pedir ajuda? A Justiça? Essa mesma justiça que tem emprego vitalicio, dele auferindo altos salários e comissões e que, mesmo assim, acaba de revoltar-se, obrigando a Presidente a alterar o orçamento, de forma a lhes garantir maiores ganhos? Essa justiça que, regularmente produz fofocas indignas de uma suprema corte mas, sim, dignas de ambientes suburbanos e cais de porto? Ou vamos apelar as religiões? Poderíamos começar com esse malandro que, de coisas do divino nem quer saber. Assentado em confortável fortuna arrecadada a custas da desgraça de uma legião de miseráveis, distrai-se disputando com a rede platina, a primazia da atenção de milhões de idiotas que assistem novelas... Ou, iremos a esse velho mercador de almas, que ora dilapida sua secular fortuna pagando indenizações milionárias por desmandos cometidos por pedófilos que proliferam em suas quadrilhas que se escondem em templos milenares? Que tal uma agremiação que destrói o que de mais precioso a divindade lhes deu, a vida, para destruir a de outros? Ou, prefere a agremiação de casal de bispos que utiliza bíblias e crianças, das quais são avós, para contrabandear fundos roubados da própria igreja a qual representam e, acabam presos em pais estrangeiro onde a lei impera com seriedade? Pouparei notório ladrão de gravatas, em consideração a seu passado honrado, servindo a causas civis com grande desprendimento... Se nada disso lhe seduz, existem as quadrangulares, redondas e, mesmo bolas de neve... lance a sua sorte, nesta opção que é, sim, a besta apocalíptica: a Religião.
Minha resposta final: Não temos a quem apelar. Procure viver o melhor que pode a sua vida. Recomendo-lhe Integridade, pois que de uma Solução, com todo o peso de sua justiça; dessa você não escapará: A Morte! Somente ela nos livrará dessa legião de demônios a qual estamos longamente condenados. E, mesmo ela com todo seu poder, levará um tempo incontável para por melhor jeito a essa esbórnia monumental. É dito popular que, a morte perdoa todas as dívidas. Ledo engano... A morte consolida todas as dívidas em uma gigantesca hipoteca a ser paga pela sua Consciência. A única garantia que a morte lhe da, é o esquecimento; as vezes lento e doloroso....

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mantenha-se vivo...!!!

Eu ia falar de uma espécie em extinção - mais uma - a dos indignados mas, vejo algumas fotos no jornal on line, que encorajam-me a adiar por um dia mais, meu humilde, não requerido, distante grito a juntar-se a tantos outros a denunciar que, não há mais reserva moral, não há mais ânimo; declararam-se sitiadas e derrotadas as últimas forças do que, um dia, foi o Exército dos Indignados. Prefiro falar de um grito de resistência. Um grito de um velho roqueiro a berrar em inglês: Eu continuo vivo! Não me sepultem! Trata-se do bom e resistente Peter Frampton. É bem possível que, alguns amigos e colegas não se lembrem de Frampton (...eu ia falar companheiro mas, achei que poderia ser ofensivo e, preferi "colegas"...). Ele próprio, em seus 60 e poucos anos, ciente do destino fatal que é o esquecimento, dirigiu-se a um contemporâneo que cantarolava uma de suas composições durante o show, agradecendo o prestígio emprestado a sua canção. Humilde, perguntou ao sujeito de cabelos grisalhos: "Do you know me? I'm Mr. Frampton... Acredito que seus pais possam me conhecer..." A simpatia do gesto, transmitida pelo corpo surrado pelas noites, pelas drogas (garantiu que, agora, somente as de prescrição médica...) e, pelo natural decorrer dos anos, mandou uma mensagem de fé, de resistência, de simplicidade, de bondade. Frampton já não ostenta nenhum fio original da portentosa cabeleira, que balançou corações de todos os sexos (eu ia, preconceituosamente, dizer "femininos"). Tem agora uma pronunciada e reluzente cabeça pelada, um sorriso que, discretamente, denuncia o tradicional humor sarcástico dos britânicos, estressado por dentes que, quando sorri, lembram o riso de vagabundo personagem de desenho animado... Enfim, uma figura. Imagino que conversar com Frampton, mesmo que bebendo água, seja um dos melhores papos disponíveis nesses tempos de cabeças estéreis e aborrecidas. Completa a estampa, os braços finos, quase delicados, denunciando que, a maior parte do tempo da existência de quem os possui, foi gasta a segurar uma guitarra, as mãos a colher solos e acordes geniais. A quem ouve, chega a irritar, entristecer, quando Peter para de tocar... e, ele sabe disso, diverte-se com isso, saboreia o prazer que oferece a sua fiel platéia de "garotos", a maioria destes há mais de meio século pisando este planeta maluco...
Peter Frampton avisa no início do concerto que, irá tocar as músicas de seu último álbum, gravado há longínquas décadas atrás; "Frampton Comes Alive". Jocosamente, ele muda o nome do show para "Me comes alive"...Tocou, também, músicas de antigos roqueiros, Clapton, Beatles...  Um prêmio ouvir Whyle my Guitar Gently Weeps.... Acompanha-o, nao menos antigos companheiros de estrada; todos excelentes músicos, nitidamente apaixonados pela profissão que abraçaram ou, literalmente, pelo negocio que "tocam"...
O show foi ao ar livre, ao pé de uma das muitas montanhas de Utah, em noite de verão. Pode ser que o desejo de um mundo melhor, esteja conduzindo-me a pieguice de declarar que, Frampton foi sincero ao olhar para a pequena multidão que se acomodou no gramado e, dizer que ali estavam sua família e seus amigos... Não sei... por um momento foi bom acreditar que sim e que "all of us, we came, one more time, alive".... Peter, please, keep yourself alive!

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Teoria da Relatividade e o Brasil

Estive recentemente visitando o Brasil. Estava, um pouco, curioso para ver de perto, sentir, absorver o quanto possível, o momento positivo que vive o país. Tal como eu suspeitava, o tal momento bom resume-se a números e estatísticas. A vida real, ali na dureza do asfalto congestionado pelo trânsito infernal das grandes cidades, no ar impregnado de poluições diversas, nos preços altíssimos dos bens - e também dos males - de consumo, nas calçadas cheias de cocô de cachorro e obstáculos para cadeirantes (o termo "cadeirante" foi a única melhora na vida dos deficientes físicos) e, a iminência de um ato violento a desabar sobre sua vida a qualquer momento, tudo isto somado, dá a vida diária uma qualidade muito ruim. Os números podem ser vistosos; ótimos para financistas e investidores. De quebra, ocupa muitas pessoas mas, não observei avanços palpáveis, tais como melhores moradias para a massa, preços acessíveis, melhores ruas e estradas, cidades menos agressivas e - chega a ser patético mencionar - mais acolhedoras. Não falarei de escolas; não tenho contato direto e, tudo que sei, vejo nos jornais; a dura realidade de estabelecimentos depredados e ruins, é o diário na vida de professores e alunos, somados a salários miseráveis; soma cujo resultado é sempre negativo.  Notei sim, um nível de stress maior em boa parte das pessoas com quem mantive contato.
Sempre fui péssimo em Física, entre outras matérias mas, o pouco conhecimento que amealhei, permitiu-me lembrar do velho Einstein a ensinar que toda noção de movimento é relativa entre o que se move e o que observa o movimento e que, o tempo é uma noção que depende da velocidade. O Brasil é complexo; meu conhecimento da Teoria da Relatividade é pequeno e simples, de modos que paro por aqui. Entretanto, foi fácil perceber que boa parte da melhora brasileira, é relativa. Relativa a um mundo que vai mal; que parou, enquanto o Brasil se movimenta. Até aí, nada demais. É do jogo tirar vantagens econômicas em momentos favoráveis a um e contrários a outros. O que está errado, é pensarmos que conseguimos evoluir e ultrapassar economias e sociedades que se desenvolveram a séculos e que, apesar de estarem muito mal, continuam a nossa frente. Esse ufanismo é tolo, inconsequente e, serve somente para nos manter no atraso. Exemplos concretos: Atualmente, você encontra o automóvel que desejar para comprar, seja la qual for o modelo e a marca. Temos carros de todas as procedências mas, nenhum brasileiro. E todos custam uma fortuna. O Civic, para ficar em uma marca e modelo populares, custa a indescência de R$ 62.000,00 ou aproximadamente 38,000.00 dólares. O preço real deste carro, exagerando, é 20,000.00 dólares. Ou seja, você compra dois e, leva um, na maioria das vezes para pagar a prazo. Nesse caso, os juros mais altos do mundo praticados pelo país, faz com que você acabe pagando por 3 Hondas Civics, enquanto que um só está em sua garagem.
Somos auto-suficientes em petróleo e álcool mas, pagamos preços exorbitantes por um combustível ruim e mal-cheiroso, para rodar em estradas assassinas, como fui arriscado a fazer por vários dias em viagem. O aeroporto da maior cidade, do maior estado do país é simplesmente ridículo... e caro.
Ao brasileiro comum, é difícil compreender a Teoria da Relatividade. A mim também mas, seria minimamente imprescindível entender que, o Brasil sequer subiu para o patamar onde certos países caíram. Esse Exercito de Brancaleone precisaria ter melhor noção do que se passa em outros lugares do Planeta em que vive. Quando fala-se de crise na Espanha, essa crise esta longe de afetar gravemente a qualidade de vida dos espanhois. Com certeza, afetara o PIB, PNB, as importações, o preço do óleo de oliva, a frequência do Benidorm mas, pára por ai. A qualidade de vida nos países desenvolvidos, apesar da crise, cai até um certo patamar; patamar que está muito acima dos países subdesenvolvidos ou em grande estágio de desenvolvimento.
Para quem se lembra, uma vez em governo de direita, ditadura militar duríssima, o Brasil cresceu e, nos ufanamos. Pra Frente Brasil! Ame-o ou deixe-o! Era o Brasil cantado por Don & Ravel, este recentemente falecido. Delfin fez o bolo crescer mas, não o repartiu. Era o Brasil "maior que o buraco". Era o Brasil que Médici, duro e insensível ditador, diagnosticava a situação como sendo "...o Brasil vai bem; o Povo vai mal...". Ironicamente, hoje o bolo esta ai crescido e crescendo nas mãos da esquerda que combateu aquela mesma ditadura de direita. De novo, não vejo os problemas estruturais sendo combatidos: Educação; nota zero. Fizemos bastante? Pode ser mas, o bastante é muito insuficiente; nem vou desculpar-me pela redundância em um país cujo Ministério da Educação mandou a concordância e a elegância da língua para o lixo. Justiça: Qual Justiça? A que permite que um deputado federal condenado e caçado pela Interpol represente o maior estado brasileiro? A que permite que um ex-presidente caçado por formação de quadrilha e bando volte ao senado? São tantos os casos de desmando judicial que, não perderei tempo e não esgarçarei a paciência de quem me lê desfiando o rosário de iniquidades que medram na sociedade brasileira... Violência: Jamais compreenderei a razão pela qual os órgãos internacionais não classificam a situação brasileira como "calamitosa" a luz do número de pessoas criminosamente mortas. São números de guerra e, garanto; estão no topo de qualquer lista de número de mortos em guerras nestas últimas décadas. Enquanto tudo isto acontece, o  Brasil brinca de modernidade discutindo com fervor causas que, generosamente falando, não tem a menor prioridade: casamento gay, marcha da maconha, cartilha sexual, BBBs... Adora tudo que eh "fashion", não importa o quanto contraditório seja: Detesta o sistema politico americano mas adora Facebook, Hollywood, Internet, Ipod, Pads e outras quinquilharias que estufam os cofres americanos de dinheiro. Admira o conservador Iran mas, tem um motel em cada esquina e, o sensualismo é utilizado até mesmo para promover a abstinência sexual; acha Cuba e Fidel o máximo mas, vai mesmo é para Miami, adora futebol mas, seus craques vão todos para a Europa e, segundo Romário, que não eh nenhum apóstolo, a Copa só sai no Brasil se Jesus voltar... Tenho certeza de que não voltará...
Enfim, De Gaulle continua e está cada vez mais atual em sua afirmação: O Brasil não é um pais sério. Resta agarrar-se aquela frase de rara lucidez do Hino Nacional: Gigante pela própria Natureza... porque, com raras exceções, se depender dos brasileiros, será sempre um pequeno gigante a pisotear seus filhos... E não culpem somente os políticos, pois que estes saem de dentro das famílias brasileiras e, lá estão por voto direto e distraído de brasileiros... Escola não é passatempo... Escola é passaporte para o Futuro!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

U-2 ... U-tah

Assisti, ontem a noite, a apresentação do U-2, aqui em Salt Lake City. Foi no estádio da Universidade de Utah. Alguém poderá estar a se perguntar "...que diabos faz o U-2 em SLC?". Não sei e, não tive a oportunidade perguntar a nenhum deles a razão pela qual dezenas de imensos caminhões percorreram milhas e milhas de estrada, para desembarcar as toneladas de estruturas de aço que compõem o cenário dessa turnê a que chamam de 360 graus. Além de informar que aqui, também, circula o dólar, direi somente que a Universidade de Utah teve dois ganhadores de Premio Nobel, sendo o mais recente em 2007 e, goza de grande respeito na área de Medicina. Foi fundada em 1850, 46 anos antes de Utah deixar de ser Território e, tornar-se um estado da federação americana. Não sei se Bono sabe dessas coisas e, por isso mesmo escolheu, pela 3a. vez, Salt Lake City para soltar sua inconfundível voz que, tanto canta, quanto protesta seu inconformismo com algumas das muitas coisas erradas que o U-2 anda a ver mundo afora e adentro.

O U-2 com seu idealista e carismático líder, forma uma curiosa entidade, talvez sem precedentes na historia de bandas musicais. Desde "Sunday Bloody Sunday", passando por "Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car", até "Beautiful Day", o U-2 criou e dominou largo espaço na política, na música e, nos costumes. Critica ditaduras mas, não se limita a escrever letras ácidas desancando regimes e líderes políticos dos quais não gosta mas, vai ao encontro destes e poem a boca - não diria no trombone - mas, no microfone. Bono já se queixou de que ganha dinheiro demais e, até com uma certa culpa, em seus shows vive a agradecer os fans presentes e ausentes, por terem proporcionado ao grupo a confortável vida que levam mas, não deixa de criticar os filhinhos-de-papai e, aos que reclamam da vida, sem razão, sempre que pode. Admiravelmente para estes tempos, é um conservador, assim como, em maior ou menor grau, os outros membros do grupo. Não usa drogas, não aparece fumando e, vive com a mesma mulher e a mesma família desde sempre. Religioso, boa parte das musicas que compôs, teve influência nas origens religiosas; pai católico e mãe anglicana. Até hoje, não tenho notícias de que Bono tenha investido, nem tempo e nem dinheiro, na causa "gay". Investe sim; furiosamente, contra a fome na Africa, a ausência de liberdade de toda sorte onde quer que esta falte, e na propagação dos nomes das pessoas as quais admira, tais como Mandela e Aung San Suu Kiy. E, é justamente este conservadorismo humanista "fora-de-moda", que proporciona a banda a credibilidade e o sucesso dos quais goza. É difícil em meio a imensa corrente liberal que hoje atropela a humanidade, resistir ao apelo de fazer sucesso fácil e imediato, defendendo causas "fashion" tais como os direitos civis de GLS, as virtudes da maconha, e o direito de ser feliz a qualquer custo. O U-2 navega contra a corrente e, recebe os aplausos dos passageiros da Nau da Insensatez que navega em direcao contrária, cujos passageiros tem vontade mas, não tem caráter, gana, disposição, para fazer a longa volta nesse oceano de enganos e retornar ao curso correto.

Não creio que o U-2 pretenda liderar a humanidade para qualquer direção que seja. Tudo indica que Bono é, simplesmente, um cristão convicto, um pouco assustado com a fortuna rápida e inesperada que amealhou. Procura fazer a parte que lhe toca como ser humano, participante que é deste imenso show que é a vida, onde poucos fazem e uma imensa maioria limita-se a aplaudir ou criticar. E, faz muito bem. Sócio-politica a parte, os caras fazem um som sideral e contagiante. Impossível, ainda que por um momento, não acreditar que a vida pode ser muito melhor, também, nas fronteiras além-mar das Américas e Zooropa...

sábado, 14 de maio de 2011

Pedido de Ajuda...

Velho amigo, pede-me ajuda em situação verdadeiramente complicada. Sua carta e, minha resposta:





"Recorro a você para pedir conselho num dilema muito sério.

Eu tenho uma namorada que eu amo intensamente e quero casar com ela. O meu problema tem a ver com a minha família, eu tenho receio que a minha gata não se identifique e isso gere conflitos no nosso relacionamento.

Papai é chefe do tráfico e tem atuação muito forte no PT aqui no Rio. Ele conheceu a minha mãe numa casa de tolerância e conseguiu tirá-la dessa vida. Hoje ela tem sua própria zona com mais de duzentas mulheres e homens, e não precisa mais exercer esse trabalho pessoalmente, só de vez em quando pra se manter sempre por dentro das tendências do mercado.

Tenho três irmãos e duas irmãs que eu conheço pessoalmente, provavelmente haverao mais que eu nao conheço. O mais velho é Deputado. O segundo tinha problema, mas mudou muito de vida depois que cumpriu a pena por sequestro e estupro e hoje é bispo da Igreja Universal , já ressuscitou mais de catorze mortos e curou mais de 3.000 aidéticos e vive bem com a graça de Deus com suas quatro esposas em Jurerê Internacional. 

Meu terceiro irmão abandonou a milícia que ele comandava no Complexo do Alemão, se arrependeu dos presuntos que ele tem no currículo, saiu do armário faz uns oito meses e hoje é travesti e trabalha na rua do Jóquei em São Paulo, mas ele faz só ativo. Apesar de ter virado a casaca e largado o Mengão pra virar curintiano por causa do Ronaldo, ele é um menino bom e não causa preocupação na família. A gente vê que ele tá bem encaminhado. 

A minha irmã mais velha casou com o avô da ex-namorada dela, que está em estado vegetativo por causa de um derrame que ele teve quando o bicho pegou na época do mensalão. Ela abriu sua própria empresa em parceria com um sindicato, um despachante e um cartório, e hoje vende autopeças procedentes de veículos desaparecidos de outros Estados. E a minha irmã caçulinha trabalha de dia como atriz nas Brasileirinhas e de noite ajuda a mamãe, só que ainda na fase do atendimento direto ao cliente, pra poder pegar o know-how do negócio a partir da base.

Bom, a minha pergunta é a seguinte: Minha namorada sabe de tudo isso, com excessao de um fato, pelo qual eu temo sua reaçao.

Você acha que eu devo revelar de uma vez ou ir revelando pouco a pouco pra minha namorada que eu tenho um irmão Deputado? Morro de medo que isso seja chocante de mais...

Pois é Bosco, agradeço sua resposta que, tenho certeza servirá para orientar-me da melhor forma possivel.

Por favor, encaminhe a resposta para o Centro de Meditação Bangu II."

Segue minha considerada resposta ao amigo:


Prezado, seu caso é, mesmo, de difícil solução. Espero que não desanime mas, sim que, persevere. Afinal, você tem uma ótima família a seu lado e,  desvios, ainda que graves como é o caso de seu irmão, são compreensiveis; devemos aceitá-los e, ir adiante. É o que o Brasil tem feito em casos assim, desde sempre. Alguns chamam de impunidade. Eu prefiro entender como insofismável prova de tolerância. A apoiar o que digo e, também para ajudá-lo na desigual peleja na qual você está envolvido, envio-lhe os seguintes fatos para que vc tente comover sua noiva a ingressar nessa honrada família:

- Atualmente, 513 outros grupamentos brasileiros (eram famílias), sofrem o mesmo dano moral, e vivem bem, sem apresentar nenhum dano psicológico estrutural, afora a desconfiança de que são vitimas, natural em atividades que requeiram idoneidade, como bingos, jogos de domino, divisão de despesas em restaurantes e convescotes, ou doações a igreja quando estas requerem que o doador enfie a mão na sacolinha do sacristão e, outras atividades menores, de difícil classificação. Devo registrar, sim, que, as vezes, ateiam fogo em índios e mendigos e, metem-se em desinteligências em ambientes públicos, principalmente com outros freqüentadores de restaurantes, ocasião em que se poem a chutar portas de automóveis; enfim, tornam-se agressivos mas, isto são fatos menores e, não tem importância decisiva em nossa análise.

- A cada 4 anos, essa desgraça se abate sobre outras famílias. Contando-se os delinqüentes ativos, os inativos - assim feitos por ultrapassarem os limites de canalhice aceitáveis (e olhe que o Brasil tem fronteiras quase que inatingíveis, quando se trata de canalhice no trato da, assim chamada, "coisa pública") - a descendência dos mortos e desaparecidos, os de exílio voluntário e confortável, e os que resolveram por delinquir em outras denominações como a senancia, burgomestrias, pretorias e, todos os assemelhados que, de uma forma ou de outra, vivem do erário publico sem prestar os serviços pelos quais são nababescamente pagos; tudo somado, meu caro amigo, restarão poucas pessoas no pais que possam vir a causar constrangimento a sua eleita.

- A vergonha não se resume ao cargo ocupado por seu irmão mais velho. Atinge da mesma maneira e, com igual gravidade, a qualquer cidadão que venture nos pantanais da politica.

- Por último, procure, com paciência e determinação, convencer a seu irmão mais velho a arrefecer, diluir a má imagem que ora envergonha sua decente família, defendendo causas de indubitável utilidade publica. A título de colaboração mas, não limitado a estas, cito a defesa do direito ao aborto de maneira irrestrita. Um filão que seu nobre irmão pode explorar e, no qual será pioneiro: O direito de gays ao aborto! Sim, porque não demorará e teremos homossexuais do sexo masculino gerando filhos involuntários, provenientes de simples descuidos a estupros. A estes, seu irmão poderá garantir o direito de aborto, custeado pela "viúva", claro! Não precisa dizer que a idéia não é dele, embora esse cuidado ético seja desnecessário, tratando-se de seu irmão e do cargo que ora esta a ocupar, pelo que me desculpo. Poderá também, defender a abertura de "casas de massagem" zoofilicas. Afinal, os animais também são seres humanos, como bem sentenciou um colega (de seu irmão), ex-ministro. Enfim, as possibilidades são quase que infinitas e, tenho certeza, seu irmão poderá contar com ampla assessoria e suporte a explorá-las. É assim que o Brasil vence e avança. Seja incisivo e, de um xeque mate nas dúvidas que corrompem sua noiva: Se não me ama, ao menos ame o Brasil mas, não me deixe! Case comigo pelo bem da Nação e, assim garantiremos a construção da casa de moças na qual está a se tornar o pais!

sábado, 30 de abril de 2011

Damas e Cavalheiros…

Avolumam-se as queixas por conta da suposta falta de romantismo dos homens e, francamente, isso tem me causado inquietação e tristeza. Aparecem na forma de correntes de e-mails, em canções de Sir Elton John e Gretchen, boleros de Lindomar Castilho, insultos psicografados das Mamonas Assassinas, piadas infelizes, anotações em banheiros de padarias e, mesmo, em versinhos ruins, covardemente atribuídos a Shakespeare. Todos, sem exceção, clamam pela valorização da mulher...De há muito que se foram os cavalheiros; difícil negar o fato. Mas, ainda que os trouxéssemos de volta, onde estão as damas; para onde se foram estas? De certo, tomaram destinos diferentes e, agora, estão a buscar-se uns aos outros, chorosos pela perda de um tempo que não voltará, jamais...

Não há uma resposta fácil para uma pegunta difícil de formular. São vários os componentes que levaram a extinção das damas e seus cavalheiros. A ansiedade de sexo, os relacionamentos fugazes, a flexibilidade dos caracteres, os contatos virtuais, a ditadura das aparências; tudo isso e, muito mais, mataram e sepultaram um ritual a que os antigos autores românticos chamavam de "corte". Sim, houve  um tempo em que os homens, cortejavam as mulheres; as damas.Não assisti o casamento do príncipe inglês William, com Catherine Elizabeth Middleton e, exatamente por não ter assistido, gostei muito. Explico: Não assisto por medo de ver algum fato, uma gafe imperdoável, um grave deslize, que possa trincar essa pequena ilusão que, ainda, conservo. Tenho grande entusiasmo por cerimonias matrimoniais que envolvam a nobreza; príncipes e condessas, ainda que estes venham a se tornar reis sem nenhum poder político ou que, morram, anônimos, de preferência felizes para sempre, em algum castelo de frias e duras pedras, caçando raposas em algum lugar da Inglaterra. E, é justamente ai, na inofensividade politica, que esta o segredo do poder e da longevidade da monarquia inglesa e, seus casamentos monumentais com carruagens, damas e cavalheiros, que só sobrevivem em livros de Hans Christian Andersen e, no Reino Unido!Li que, a primeira frase que William, cavalheirescamente, dirigiu a sua dama foi: Você esta linda! Kate não precisou provar nenhum sapatinho de cristal, para tornar-se condessa, duquesa, baronesa e, todas essas honrarias nobiliárquicas que, cada vez mais, ficam reduzidas ao Império Britânico e aos livros de Contos de Fadas. Bastou ser dama... Talvez a última, com exceção as do baralho... Assistir a esses antigos e complicados ritos matrimôniais ingleses, deve ser o preço que teremos de pagar para manter viva uma encenação de um gesto bonito que, um dia, foi real. Um grito, estranho, primitivo e, incompreensível, a clamar pela volta do Amor, é tudo que restou no coração das Damas e Cavalheiros de outrora, hoje homens e mulheres inseridos em cruéis armaduras, a lutar por títulos, não mais de nobreza, mas dos mercados e, das bolsas, onde todos os valores se perdem...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Saudades sem fim...

Fala-se muito de saudades. Há um certo orgulho nacional por - dizem - ser a palavra intraduzivel. Meu conhecimento de idiomas é reduzido e, não ouso concordar ou discordar. Mais reduzida ainda, é a minha sensibilidade para arriscar dizer que, as saudades brasileiras sao melhores do que as australianas ou finlandesas ou, mesmo a dos portugueses, povo que sofre muito de saudades. Houve um tempo em que eu sentia muita saudades. Saudades de muitas coisas e, de algumas pessoas. Doses maciças de Realidade, sim; Realidade é o melhor remédio contra as dores das saudades, curaram-me desse "mal". Hoje, devo confessar que sinto falta de certas coisas. Sentir falta, não é ter saudades. Saudades, é puramente emocional. A falta que se sente de certas coisas, é racional e, para isso há remédio. A falta que se sente de alguém, não tem pausa e nem cura. A saudades de alguém, pode não ter cura mas, é intermitente. Uma certa presença, um certo lugar, ou ambos, são paliativos para uma saudades mas, nunca para uma ausência. Se você sofre de saudades e, se isto lhe incomoda, trate-se com Realidade. Mas, sublinho: Somente se lhe incomoda. Sim, porque há saudades das quais não queremos nos curar nunca. Conservamo-la e a cultivamos com desvelado cuidado. A essas, recomendo muita solidão e melancolia. Evite dias ensolarados, desses primaveris nos quais pássaros vagabundos e irresponsáveis trinam como se o mundo pudesse ser bom e, crianças alienadas brincam felizes sob o amoroso olhar de suas mães, nos parques das cidades. Entrincheire-se em um covil sombrio e mal-cheiroso, lendo poemas de despedida e perdas.Verá você que seu jardim de saudades irá florescer viçoso de causar inveja a qualquer poeta parnasiano. Agora, supondo-se que você queira se livrar de alguma renitente saudade, recomendo ao amigo e amiga que submeta-se a rigoroso tratamento com Realidade. É infalível. Um certo lugar? O mundo esta repleto de lugares belos e, pensando bem, aquele lugar não era tão bonito assim... Aquela pessoa? Pense nela em seus piores momentos. Tinha mau-hálito? Produzia ruídos? Não é possível que, miserável, não tivesse um defeito; um único que fosse. Pois bem; identifique-o e concentre-se nele. Um defeito, ainda que pequeno, só iria agravar-se ao longo do tempo... Viu do que se livrou você? Entretanto, se a perda é mesmo irreparável, que essas existem, console-se pensando que nada é para sempre; nem mesmo as perdas. Em algum lugar, desta vez belo e sem defeito algum, você irá reencontrar quem lhe faz tanta falta. Aquele companheiro de conversa inigualável regada a pinga velha e mansa, naquela antiga "vendinha" em meio a temporal brabo, na curva da estrada de terra que desaparece sem fim entre montanhas, até o grande e verdadeiro amor de sua vida, aquele que tinha o poder de lhe fazer acreditar que a vida é sempre bela, a Realidade lhe mostrará que estão todos a esperar por você, para sempre, como sempre foi, logo ali adiante, a pouco tempo de distancia...

sexta-feira, 25 de março de 2011

O olhar de Elizabeth...

A Primavera que acaba de chegar, será um pouco menos violeta. Mal esta colocou suas malas nos campos ainda cobertos de neve e, despediu-se Dame Elizabeth Taylor, dona de raro olhar, de rara cor, os quais ela garantia serem vermelhos. Claro, zombava da legião de admiradores aos quais seduziu por gerações a fio. Seduziu, também, a Marco Antônio e suas legiões romanas, emprestando o fatal olhar a Cleópatra. Marco, não resistiu a ilusão do cinema e, amou-a fora das telas na pele e no coração de Richard Burton. Liz, uma vez, pediu para ser sepultada junto a seu verdadeiro amor. Casou sete vezes- duas  vezes com Burton - e, nunca confessou em qual seu olhar, qual cor fosse, brilhou mais forte. Quem sabe, confiou nas juras de amor de M. Antônio a Cleópatra: "a cada vez que respiramos, estaremos mais próximos um ao outro...". Talvez tenha sido mais amada e desejada, do que amou ou desejou um dos 7 oficiados...

Tenho a impressão de que a própria Liz, com seus belos olhos de cor púrpura, via tudo isso com um glamour menor do que lhe impigem. Alguns de nós, não resistimos a necessidade de acreditar que pessoas belas, famosas e, ricas, sejam os verdadeiros modelos de vida a seguir. Relevam seus enganos e, mesmo, maldades. Preferem fracassados famosos a, bem sucedidos anônimos. Não estou a dizer que Liz tenha sido uma fracassada. Suas ações humanitárias são nobres. Como atriz, sua beleza ofuscava os defeitos que os críticos de cinema apontam. Ultimamente, tem morrido muita gente famosa e, muitos ainda irão morrer. É certo que os anônimos morrem em maior quantidade e, isto lhes reduz, ainda mais, a importância. Talvez, por isso mesmo, deveria ser a estes dedicada um pouco mais, e melhor, atenção. Somente através do falecimento, é que as pessoas conseguem avaliar a vida. Sempre a alheia, posto que não há retorno para um mea culpa de viva - ou falecida - voz. A morte ainda é a melhor e maior moldura para a Vida.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um Novo Amor...

Rictor and Shatterstar kiss.
Art by Marco Santucci.
a
                                                                                                                                                                                                                                                                  
Em tempos, dos quais já não resta memória, os homens eram criados por mulheres. E as mulheres amavam seus homens e, estes amavam todas as mulheres. Desde pequeninos, eram todos assim. Tao logo as meninas davam-se conta de serem meninas em vias de serem mulheres, deixavam de lado suas bonecas e seus arremedos de lar e, passavam a cuidar de seu primeiro homem, ao qual chamam, até os dias de hoje, Pai. A ele dedicavam seu primeiro amor; seminal amor de mulher, por ele sentiam as dores dos primeiros ciumes, e  dele, disputavam o primeiro amor, com sua primeira adversaria a qual chamam até os dias de hoje, Mãe. E os homens eram bons e, amavam suas mães, todas as mulheres e a todas as suas mulheres e, a todos os seus homens. Então, um dia, em passado não tao distante, as mulheres decidiram que amariam, também, a todos, sem distinção, a homens e mulheres. Já não podiam mais sobreviver somente com seu próprio amor. Já não podiam dedicar todo seu amor a um só homem e ver este amor ser dividido por entre todas as mulheres e, outros homens, também. Então, as mulheres abandonaram os homens a sua própria sorte e, confundidas, lançaram-se em um caleidoscópio de amores multiformes e multicoloridos. Algumas, fantasiaram-se de homem, debaixo de pouco cabelo, muitos músculos e trejeitos de Neanderthal. Aos homens, orfanados, restaram somente, todos os amores de todas as mulheres que sempre tiveram, menos o de suas mães. As mães, órfãs de seus filhos e de seu homem, restou amar a todos eles, em insana busca pelo homem perdido e que, um dia, foi só seu. Exaustas e desesperançadas pela ausência que persiste, refugiam-se em andróginos amores e, escandalizam a um mundo que, em um misto de sanha e perplexidade, assiste a beijos e caricias deslocadamente, tresloucadamente, trocados entre amantes de oficio. Neste emaranhado louco, onde os amores e amantes não tem mais pouso nem guarida, uma cascata de sentimentos confusos despencou sem volta, vida abaixo e, dela começam a surgir os novos homens, agora, muitas vezes, gerados pelos próprios homens em corpos que não são seus... As mulheres, na ausência de seus homens abandonados ou, que se foram para outros sentimentos, juntam-se para criar filhos de homens que não são delas, dividindo em um arremedo de lar as funções de pai e mãe. Da mesma forma, homens se juntam para criar filhos que são seus, feitos por outras mulheres ou, em centauro desespero, filhos gerados em seu próprio corpo, lá inseridos a força de ferramentas. É neste cenário, sem tempo para entender, que leio e ouço, atirada ao descaso, frase tão vazia quanto aos balões das lojas de departamentos onde escreveu-se: Happy Valentine Day!




A você, que tem um amor de verdade ou, ao menos acredita, com a inocência de uma criança, ser um amor de verdade, Happy Valentine Day!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Apagar das Luzes...

Apagam-se as luzes de Natal. A tradição manda que se espere até o dia 6 de Janeiro, Dia dos Reis Magos, para que os enfeites natalinos sejam retirados. A partir dai, o mundo volta ser mais áspero; os lobisomens retornam em plena luz do dia. Já não precisam disfarçar a selvageria, os instintos primitivos, a sanha voraz com que conduzem os negócios da sobrevivência. Desaparece nas pessoas, a tolerância diante das contrariedades e azares. Tolerância que tem o Dia de Natal como porto de chegada, onde o perdão, a alegria e, a fraternidade, estão a espera de todos; para aliviá-los de suas angústias e dores de toda sorte. Embora não admitam, tem a não confessada esperança de que, daquele dia em diante, a vida será diferente e, melhor. Em um ritual pagão dentro de uma tradição cristã, as pessoas enfeitam uma árvore com bolas de luzes coloridas, pequenos adereços e, mimos. Tudo isso fabricado em países remotos, onde as pessoas pouco ou nada sabem sobre o Patrono da grande festa distante. É comovente tomar as mãos a pequena estátua do menino Jesus e, ler em sua base "Made in China". São as virtudes da globalização.  A noite, as casas brilham envoltas em um halo de paz, irmanadas pela fé comum que depositam em seu Guia espiritual. Reparei que o acender das luzes é, também, uma maneira  que as pessoas encontraram para enviar mensagens umas outras. Mensagens, as mais variadas mas que, no fundo, tem um significado básico para todos: Solidariedade. Traz um certo conforto, um sentimento de tribo, olhar para a casa vizinha e ver as luzes da árvore de Natal a brilhar, tal como a sua. Nas poucas vezes em que demoramos a acender as lampadazinhas de nossa árvore, senti-me um pouco culpado em relação aos vizinhos; como se estivesse a negar meu apoio a uma causa justa e comum... Pensei, mesmo, em continuar a acendê-las todos os dias do ano. Fui convencido de que o gesto poderia ser compreendido como galhofa e, recuei da idéia. Vou sentir falta das luzinhas e, também, das cantigas de Natal. Aqui, as chamam Carols. Particularmente, gosto de Rudolph, the Red Nose Reindeer. Impossível não abaixar a guarda e, não acreditar que esse mundo pode ser melhor, sim... Ao menos durante alguns dias do ano... mantenham-se vivos! O Natal esta logo ali adiante...