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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mentira... foi tudo mentira...

O julgamento do mensalão, acabou. Li uma resenha a respeito, feita pelo Estadão. O que ali está, são os fatos apontados, comprovados, julgados, condenados e apenados. Estarrece, não somente o ocorrido - os empréstimos falsos endossados por bancos, o desvio de dinheiro público, a organização criminosa capaz de fazer inveja ao PCC - mas, também, agora, a desfaçatez dos condenados e de um certo Maia, presidente da Câmara (ou camarilha?), ao afrontarem as decisões do STF. Rebeldia impensável em uma democracia. O julgamento foi transparente, correto e, todos tiveram a oportunidade de acusar e, de defender. Decisão de tribunal, se não couber mais apelação - o que é o caso - cumpre-se e, ponto. O bem que tem essa rebeldia, é que esta confirma o mau caratismo, o espírito de bandidagem, o completo desdém pela Justiça, entre outras malignidades que norteiam as ações desses criminosos. Aceitassem, disciplinadamente, a decisão de um dos poderes da Republica, e teriam feito o mínimo para não aumentar a indignidade que os cobre.

No rastro dessa imundície, esse Valério tombou o latão da podre e gosmenta matéria onde esses crimes fermentam, na direção do caudilho-mor. São fatos ainda não provados mas, de evidências graves. Segundo os indícios, Celso Daniel morreu e não merece lamentos e, tampouco saudades. Teria descoberto que o resultado de seus roubos, estavam sendo furtados por um outro bandido de sua própria quadrilha, o tal Sombra e, por isso, foi "deletado". Em outra acusação estarrecedora, Okamoto teria trazido recado do caudilho-mor, a ele, Valério, de que, se batesse com a língua nos dentes, seria "apagado"... e, por ai vai, com direito a amante traficante de influências com gabinete no prédio do Banco do Brasil, nos Jardins e, tudo o que mais se sabe... Está lá, na Veja. Os acusados, limitam-se a pedir provas. Qualquer cidadão acusado de crimes dessa gravidade, se inocente, não só exigiria provas mas, processaria a revista e os jornail, por calúnia.

Em ato seguinte, leio e vejo que a seca em Pernambuco nos trouxe imagens as quais eu nunca mais pensei ver, desde o velho Geografia da Fome do "terrorista" Josué de Castro... Retirantes, gado morto espalhado pelo que, a pouco tempo atrás, era um pasto... casebres de pau-a-pique, dentro dos quais se vê melhor o exterior do que se se estivesse do lado de fora destes... uma criança com uma caneca na mão, procurando o que não existe... uma mãe com uma criança recém-nascida no colo e, ali, aquele homem humilhado; vencido pela miséria, tentando mostrar uma força fisica espremida entre pele e ossos... tem a fala dura, curta, seca... tão seca quanto a paisagem desgraçada que circunda o casebre miserável. O velho Chico continua a correr no mesmo leito por onde vem se arrastando a milênios. Faltam 60% das obras, para que cheguem ao sertão que espera, as águas desviadas... O único desvio rápido - aposto e ganho - foi o do dinheiro público para cofres privados.
Enquanto isso, a presidenta mal-educada, fecha a cara para o digno juiz Barbosa. Este, enfrenta com comovedora dignidade e rara determinação essa quadrilha e bando, aos quais se aliam pares do próprio Barbosa com manobras patifes, tergiversações, e chicanas jurídicas a fim de desviar pelos complicados escaninhos da Justiça,  a sentença justa e reparadora.  Em doce exílio, o caudilho-mor repete a eterna cantilena: "É mentira... é tudo mentira". Assim como o é, o PT... uma enorme e custosa mentira...

domingo, 2 de dezembro de 2012

Os Impostos da Morte


Na quinta-feira passada, em um desses tantos perigosos semáforos de São Paulo, um casal teve suas vidas paradas para sempre no vermelho, não da luz, mas do sangue que passou, agora, a circular no asfalto. A imagem dos corpos estirados na rua, acondicionados em sacos plásticos, era mais uma fotografia de como o Estado encara o cidadão ao qual deveria proteger: lixo, valor nenhum. A cada morte que passa nesse cortejo fúnebre que parece não ter fim; ao contrário, só faz aumentar, a vida torna-se, cada vez mais, artigo banal.
Os mortos nesse episódio, pertencem a família de uma pessoa conhecida. Pude testemunhar a dor externada nas palavras dessa pessoa, nunca suficientes para descrever o que realmente esta a acometer a família. Um misto de desespero, humilhação, impotência, prostração... Lista infindável de palavras não seria suficiente para descrever o matiz de cores negativas que permeiam os sentimentos de perda de entes queridos em circunstâncias tao absurdas. Para quem não soube da noticia, resumirei: Namorada da ao namorado motocicleta de mais R$ 50.000,00. No dia seguinte ao presente, saem para passear, param em um semáforo e, são abordados por dois assaltantes em uma outra motocicleta. Aparentemente, o casal tentou fugir. Baleado nas costas, o rapaz perde a direção e bate contra um carro. Os assaltantes param ao lado das vitimas e, disparam mais três tiros em cada um, matando-os.
Aqui, a acusação que faço: Segundo a polícia, a motocicleta era o objetivo dos assaltantes. O custo real dessa moto não ultrapassa, exagerando, R$ 30.000.00. A carga de impostos que eleva o valor de uma simples motocicleta a níveis absurdamente irreais, atiça a cobiça dos assaltantes, colocando em risco a vida dos cidadãos. Pessoas tem sido mortas simplesmente por causa de tênis de marcas fashion, relógios e, outras quinquilharias, cujos valores foram artificialmente aumentados por impostos canalhamente altos.
O Estado tem se mostrado de uma incompetência odiosa em sua tarefa de proteger o cidadão. Além de não defende-lo de criminosos, facilita a ação destes, desarmando e proibindo pessoas honestas de portarem armas. Também, paga mal aos policiais, obrigando estes a conviverem com bandidos de toda sorte em imundas favelas onde acabam fazendo parte de quadrilhas ou esquadrões da morte; tudo para poder complementar um salário miserável. Enfim, o Estado fica ao lado dos bandidos nessa guerra civil que consome centenas de vidas a cada mês na cidade de São Paulo (mais de 200 em novembro passado). Em uma trincheira estão malfeitores e policiais (honestos e corruptos); todos armados. Em trincheira nenhuma, exposto, fica o indefeso e desarmado cidadão que trabalha para sustentar a todos: bandidos, políticos e policiais; honestos e desonestos... Infeliz daquele que é assaltado, seja pelo fisco ou pelos bandidos, e nada tem a oferecer. Ironicamente, lembra a Caronte, personagem da bela mitologia grega, barqueiro que cobrava 6 dracmas para atravessar as almas no rio Styx. A família do morto, prudentemente, colocava as moedas na boca do falecido, para que Caronte não o abandonasse a vagar nas tristes margens do rio... A diferença em relação ao que acontece nos dias de hoje, está no fato de que Caronte, uma vez pago, fazia seu serviço. O Estado nos atira; abandona a morte, paguemos, ou não, os malditos impostos. Nunca foi tão verdade o ditado de que, para quem está vivo, só há duas certezas: impostos e morte....

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Chovendo na Roseira...

Ontem a noite, em uma radio local, ouvi alguem cantar Chovendo na Roseira. A principio, pensei que se tratasse de uma cantora portuguesa, pois que, não conseguia entender muito bem as palavras que a bonita voz esforçava-se por pronunciar. Não, não era e, vou ficar sem saber o nome, pois acabei não prestando atenção quando o locutor deve ter feito os créditos aos intérpretes da seleção musical, daquele segmento do programa. Acabei desviando-me para outros pensamentos. Primeiro, lembrei-me da voz suavemente rouca de Jobim. Acho que a canção é dele. Depois, pareceu-me lembrar de Elis Regina que, cantava o que queria e, fazia as canções mais comezinhas tornarem-se clássicos da MPB. Mas não era em Elis  que eu pensava, quando, distraído, fiquei sem saber o nome da cantora americana. Sim, era americana, porque, mais adiante, cantou um pouco em inglês e, o tico-tico que morava ao lado e que, passeando no molhado, descobriu a primavera, foi geograficamente substuido por um Robin... Não ficou ruim mas, naquela hora da noite, entre os raros apreciadores de jazz, poucos saberiam da diferença entre o cenário que inspirou Jobim e, as brancas montanhas nevadas de Utah e, menos ainda entre um tico-tico e um Robin... Concluí, mais uma vez que, essas diferenças é que fazem a Terra tao bonita e, o viver, uma experiência inigualável... O pensamento que, realmente, tirou minha atenção de Chovendo na Roseira e da brava interprete americana que desafiava as agruras de nossa bela e difícil língua, foi imaginar o sentido que fazem os versos de Jobim, nos dias atuais, quando os olhares estão todos voltados para telas de TV, de computadores, de celulares... Alguem levanta o olhar para apreciar gotas de chuva em pétalas de roseira, ainda que esta "...só dá rosa mas não cheira."?  E, o jasmineiro florido? Quantos ainda sabem o que é um jasmineiro? Entendo que há composições mais belas e de melhor inspiração na Musica Popular Brasileira... Desde o dia em que mestre Ari Barroso confirmou que "coqueiro da coco", a enxurrada de bobagens colocadas em versos de canções, não teve mais fim nem limites. Chovendo na Roseira, não é la uma jóia rara do cancioneiro brasileiro mas, uma frase despretensiosa do maestro Antônio Carlos merece cuidada reflexão: "Um amor tao puro carregou meu pensamento...". Sorte sua maestro, sorte sua... É possível que não amemos de maneira melhor e, tampouco pior do que em outros tempos; concederei. Direi, sim, que havia mais elegância e compostura por parte dos amantes, então envoltos pelas noites perfumadas; docemente perfumadas por jasmins... 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Meu voto em Obama!


Porque vou votar em Obama:

Primeiramente, neste país ainda é possível escolher entre duas pessoas decentes. Em poucos lugares do mundo isto acontece. Assim, não vejo diferenças radicais entre os dois candidatos. Taxar Obama de socialista, é o mesmo que chamar George Bush de comunista albanês, por ter me enviado 600 dólares para que eu estimulasse a economia... Assim, o ganhador de meu humilde voto, vence por um nariz de diferença. Da primeira vez em que votei em Obama, calou fundo, no Dia dos Pais, a conclamação que fez a todos os maridos que abandonaram seus lares, com especial ênfase para os pais afro-americanos, para que voltassem para casa e, cuidassem de suas famílias. Mas, deixemos de fazer média e, vai aqui, a quem possa interessar, as razões de meu  voto em Barack Obama:

  • Em tópico caríssimo a todas as pessoas; o desemprêgo, Obama venceu meu voto neste segundo debate ao declarar com exponencial clareza que, alguns trabalhos que foram "exportados", devido a mão-de-obra mais barata, para países como Índia e China, jamais voltarão. Quem dependia desses trabalhos deve entender a mensagem e, voltar para a escola. É uma verdade dura mas, é a verdade. Tão verdade quanto ao fato de que, são remotas as chances de ver-se americanos voltando a trabalhar na lavoura, com enxadas...  E, nada de ficar esperando que o Estado resolva seu problema. Para quem tem espírito de luta, há ainda oportunidades enormes de educar-se, de adquirir conhecimentos técnicos que lhe garantam emprego.
  • Obama tem a clara visão de que essa crise não é uma crise que possa ser classificada como, simplesmente, recessão. Não é uma crise de capitalismo ou socialismo. É uma crise de dimensões estruturais que vai muito além de fundamentos economicos e, envolve profundamente o caráter das pessoas que estão a gerir as empresas americanas. É, alem de economica, uma crise de justiça. Banqueiros não podem arrastar o país para o fundo do poço, e não receber punições severas. Veja o útimo capitulo dessa nojeira; a manipulação pelos bancos das taxas da Libor. É tarefa para legisladores, democratas, republicanos, independentes e, dependentes também, executarem, sem demora.

Quanto a Romney, é um homem decente. Nada foi dito ate agora, que possa significar o contrário, ao menos enquanto cães não adquirirem a faculdade da fala. Entretanto, lembra-me a velha imagem do cowboy, decente, honesto e desastrado. Ao levantar da mesa de convidados, sempre enrosca a espora na orla da toalha, jogando tudo que esta na mesa, ao chão. Seus desarranjos verbais, tem origem em confusões mentais. Gasta muito tempo a explicar que não disse o que disse e, estadistas não tem tempo para isso. Até agora não explicou em detalhes o que fará  com o Obamacare, que é lei aprovada. Nem de longe penso na possibilidade de que Romney venha a desobedecer leis. Não creio que venha contar com maioria suficiente para derrubar o que ai está. Então, o que fará? Não respondeu. Em tempo: Enquanto eu não souber de onde virão os recursos para a implementação dessa lei, sou contra. Assim, como sou contra o aborto; para mim um assassinato, salvo uma ou duas exceções. Mas, isso, além de um problema legal, é em grande porção, um problema de consciência e, nem tanto do Estado. Admira-me que um número enorme de pessoas apoie assassinatos. Realmente, não cabe em minha cabeça e, jamais caberá....
Por último, acho que Romney não decidiu, ainda, se é republicano moderado, radical, tea party, independente... Não sei a quem irá ter de agradar quando, e se, chegar lá. O líder do senado americano, mórmon, não gosta de Romney, desancando-o além do razoável. Quanto a Obama, sei bem o que esperar de bom e de ruim. A economia, na visão do mais duro e HONESTO crítico, não tem piorado. Em minha visão e, na de pessoas mais importantes também, tem apresentado melhoras, com modesta queda do desemprêgo e, tímidos avanços na construção de casas. Para quem enfrentou uma das piores recessões que já assolou este pais, não está tao mal....
A terminar, Obama, acima de quaisquer resultados, é uma lição viva de integração de raças que os EUA deu ao mundo. Negros são 10% da população neste pais. Quando sai do Brasil em 2001, fazia muito pouco tempo que o Exército brasileiro tinha promovido seu primeiro general de 4 estrêlas, negro... Republicanos, por favor, não vão lá dizer que a eleição de Obama é mérito de V. Sas. somente, hein!

sábado, 13 de outubro de 2012

Folhas de Outono...

Em Setembro, caíram as primeiras neves nas montanhas a Leste. Em pouca quantidade; foi insuficiente para convencer quem quer que fosse, de que o Outono havia chegado... Cá embaixo, descuidados; crianças, jovens e, velhos, continuaram a distrair-se nos parques, como que a ignorar a autoridade das estações e do tempo. Somente quando, repentinamente, as folhas empalideceram, assustadas com as primeiras brisas geladas, foi que as pessoas desviaram a atenção para admirar o festival de mil tons que cobriu as encostas da montanhas... Formou-se considerável trânsito de veículos nas altas, estreitas e tortuosas estradas, todos embevecidos com o festival de cores de uma alegre melancolia, que tomou conta das folhagens de árvores e arbustos. Agora, foi enviado o aviso final de que, o frio é uma realidade para os próximos 8 meses: Cobriram-se de neve, em respeitável quantidade, as montanhas Oquirrh, lá para os lados do deserto que, a Oeste, separam Utah de Nevada. São ermos de frio implacável. Sempre ignoraram o fato de que estamos a viver uma onda de aquecimento global... Gosto dessa austera e limpa imagem com a qual a Natureza veste essa parte do Planeta, nessa época do ano. Desaparece o lufa-lufa do verão quando, ensandecidas hordas de aventureiros invadem as estradas em longas romarias para acampamentos em meio as areias do deserto. Montados em engenhocas que dispõem somente de pneus e poderosos motores - não acredito que tenham freios -  sobem e descem imensas dunas de areia, em espantosa velocidade. Em ocasiões, sucede de  alguem morrer. Há um exército de vivos para substitui-lo e, logo será esquecido... Outros, mais equilibrados, buscam refúgio em distantes florestas, permanecendo por dias a fio em meio a pinheirais e aspens,  vivendo em trailers e barracas, cercados por sons distantes de ventos e bichos... Fazem fogueiras em pequenos círculos de pedra e, ali, comem, conversam, e bebem a vida... Tem meu respeito... Por último, há os motociclistas que, solitários ou em bandos, varejam por todos os lugares. Enormes motocicletas, ou algo que a estas se assemelha, rugindo possantes motores, os carregam por estradas de infinitas retas que cruzam agrestes desertos ou que, serpenteiam em meio as serras e montanhas... Agora, tudo isso cessa. O Inverno chegou e, a todos baixou inadiável ordem de silêncio. Serão tempos de agasalho, recolhimento, boa comida, bom vinho e, se disponível, boa conversa... Na ausência desta, aproveitar para refletir sobre a inutilidade de certas ambições, da insensatez de certos atos, algum  comportamento inapropriado, más palavras, e deselegâncias... Humildemente, em recolhimento de alma, meditar sobre a fluidez da existência que, inexoravelmente, se esvai de Estação em Estação. Quem sabe, poder brilhar; florir na próxima Primavera...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O seio da dor...


São situações inimagináveis há poucos anos atrás, essas que se nos, atualmente, apresentam. Há fatos que sempre existiram mas, nunca foram tão expostos como tem sido recentemente. Também, a caleidoscópica combinação de certos fatores, forma inusitados quadros. Aqui, câncer no seio, gays e, preconceito, combinam-se para desafiar a caridade e o cáracter das pessoas. Personagem de meu círculo de relacionamento, é gay. Trata-se de uma mulher, já de meia idade, avançando para inteira. Há não muito tempo atrás, provavelmente sob o peso de insuportável pressão emocional, respondeu com longa narrativa ao meu prosaico "Como vai?"  Disfarcei como pude a surpresa da confidência e da confiança e, prestei severa atenção ao desabafo. Pretendendo naturalidade, contou-me que sua companheira travava sofrida batalha contra um câncer no seio. Não permitiu espaço para explicar o fato "companheira" que, percebi; incomodou-a, preferindo buscar em meu olhar, compreensão e aceitação imediatas, para uma situação que, preferia ela, seria de tácito conhecimento geral. Não a existência da companheira, talvez, mas, o fato de ser ela, gay. Aceitei de bom grado seu silencioso pedido e, a conversa seguiu adiante. Descreveu-me as agruras do tratamento, as sabidas vexações físicas que as drogas provocam; subliminarmente queixou-se da segregação e isolamento social, em um momento em que o apoio de amigos e vizinhos fazia-se tao necessário; as ausências forçadas no trabalho para poder assistir a companheira, enfim; uma serie de aborrecimentos e contrariedades que, se por si só, já seriam dolorosos, agora somados a doença, tornaram-se terrivelmente espinhosos, quase insuportáveis, notei.
Emprestei a - direi amiga? não importa; naquele momento, fomos extremamente amigos - meu melhor ouvir e, convidei-a a vir em casa. Perguntou-me do fundo de suas dores, com humildade indescritível: Posso levar minha companheira? Respondi com um único "sim", claro, amigo e firme, levantando e saindo de onde estávamos, esmagado por uma enorme dor em meu masculino seio. Envergonhado; disfarçadamente, soltei a pedra do preconceito que, as vezes, impiedosamente, carrego em minha mão...

sábado, 15 de setembro de 2012

A Soma das Ilusões


Apreensivo foi o olhar com o qual avaliou o resultado das ilusões que, como nuvens esvoaçantes, haviam percorrido os céus, purgatórios e, os infernos de sua vida... Somados os sucessos, abatidos os fracassos, divididos os enganos e, multiplicadas as esperanças, o que lhe restara nos rasos bolsos da alma, mal dava para a travessia dos últimos invernos... A tênue chama a manter algum brilho no acanhado olhar, queimava o combustível das glorias passadas; muitas destas desperdiçadas nos amontoados da insensatez que  permeava sua existência. Nenhum grande feito no presente, ou no futuro de horizonte curto, que pudesse trazer, solitária e suave brisa de entusiasmo a uma existência que se vergara ao peso do tempo e dos desenganos.

A falta material, as ausências afetivas e, a vontade tíbia, aviltavam-lhe o já esburacado caráter e, lhe roíam a dignidade, causando incômodo e dor. Não tinha forças para suportar a ideia de uma vida de necessidades agudas,  somando-se a uma existência de realizações inexistentes. Dificuldades insuperáveis, impediam-lhe diagnosticar o mal que lhe consumia os dias presentes e por vir. Curvara-se a conveniências egoístas e, nisso residia sua covardia diante dos desafios que lhe impunha a existência pequena e amorfa. Sabia-se ser patife mas, não resistia a si próprio. Infligira-se definitivas derrotas e, recusava buscar ajuda, garantindo a todos, estar bem e feliz... Atribuía os percalços mais evidentes, de impossivel disfarce, ao inexplicável  e a  forças ocultas no Além ...

Embrulhava os dias ruins e, os melhores também, em um  invólucro  de falsa fidalguia e, avançava tempo adentro. Confortava-lhe a certeza de que nada volta na existência. Na conta final, avaliava; levaria vantagem,  já que os acontecimentos felizes perdiam por larga conta, para os dias de amargura. Místico, confiava que a Força maior havia previsto um final feliz, não importava quanto tortuosos fossem os caminhos que o conduziam ao Shangri-lá de suas ilusões perdidas e, esquecidas. Quem sabe, mesmo, a realidade seria, nada alem do que uma ilusão difusa a esvair-se no Tempo...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

As mocinhas francesas...


Leio a entrevista concedida por Chelsea Kaplan, na qual esta aconselha a suas semelhantes do sexo feminino, a amarem como o fazem as mulheres francesas. Nada sei sob Kaplan, além de que é a editora de uma revista on-line, direcionada a família; pais, avós, filhos, cães, gatos, etc. Não é novidade para ninguém, o fato de que as mocinhas francesas tem uma maneira peculiar de tratar assuntos sentimentais, fato comprovado desde séculos nos vários cais de portos, inclusive brasileiros. Novidade - ou, no mínimo, raro - é uma americana concedendo as francesas, a distinção de serem estas melhores amantes do que as americanas. Americano não cede nada a francês e, vice-versa. Há uma particular realidade de amor e ódio a unir ou separar esses dois povos, a depender das urgências históricas. Essa ambiguidade não tem nada a ver com lençóis mas, sim, com a dureza dos campos de batalha. Lafayette deixou a boa vida junto as cortesãs francesas, para vir lutar contra os inglêses na guerra de independência americana. A França doou a Estátua da Liberdade que, na Ilha de Ellis, continua a saudar que vem ver ou viver na América. Muito sangue americano foi derramado em solos franceses, na luta para libertar Paris do jugo alemão. Entretanto, Paris nunca perdoou Washington por não permitir que De Gaulle fizesse parte da famosa foto de Ialta. Na verdade, Rooselvelt queria De Gaulle preso, no Marrocos ou, mais longe ainda; quem sabe, conforme carta que escreveu a Churchill. Permanece a unir as duas grandes nações, a decidida opção pela liberdade. É nesse cenário que Kaplan adiciona sua contribuição para que haja harmonia entre França e EUA. Ao longo da entrevista, Kaplan expõem a maneira como as americanas tratam do "negócio" amoroso. Investimento, timing, chances de sucesso e, retorno; um goal a ser atingido... Nada de intuição feminina. Kaplan ilustra a objetividade da mulher americana para avaliar o grau de sentimento que o "alvo" a ela dedica, utilizando o ato de despetalar uma flor. Nesse despetalar, não há "talvez"; é bem-me-quer ou, mal-me-quer. Já a mulher francesa, esta admite a existência de um leque de possibilidades; não é assim, branco ou preto. Trata-se de um quadro pintado aos poucos, em cores variadas e de matizes imprevisíveis. Outro ponto interessante, segundo Kaplan, é a rejeição a conselheiros sentimentais, por parte das francesas. Enquanto as americanas dão grande atenção a estes, a manuais de comportamento para o antes, o durante e o depois, as francesas dispensam completamente qualquer aconselhamento. Não há certo ou errado. A experiência em si, é o que tem valor. A amante francesa se permite ser ela própria, enquanto que a americana - coerente com a cultura de que tudo pode ser sempre melhorado - está sempre estressada, procurando uma evolução em seu comportamento sexual ou, a identificação de um mal a ser corrigido. Para americanos, a vida não existe se não puder ser registrada em estatísticas e, os números são, melancolicamente negativos, para ambas as amantes. Francesas e americanas competem acirradamente em número de traições. Enquanto as primeiras encaram o fim de um "amor" de maneira fatalista, a americana é hipócrita e, acredita até o último minuto que antecede a assinatura do divórcio que, um casamento é para sempre. O índice de divórcios americano é muito maior do que o francês. A francesa prefere ir levando, certa de que não há casamento perfeito e que, atrás de um morro há sempre outro morro. Por isso mesmo, mais da metade das mulheres francesas preferem cohabitar. Dai, o reduzido número de divórcios; no que podemos chamar de saída a francesa... De tudo isso, interessava-me, de verdade, saber como as francesas conseguem comer tanto pão e queijo, beber tanto vinho e, ainda assim manter-se alinhadas... O artigo não informa...

terça-feira, 5 de junho de 2012

A sua ausência...

Peguei-me revirando algumas lembranças suas; nossas, perdidas entre a minha memória e meu coração ... Recordei-me de quando você marcava o compasso de minhas horas. Os 5 dias da semana chamados "úteis", serviam somente para separar você de mim e intercalar os sabados e os domingos. Assim, estes dias existiam somente para esperar o momento de lhe rever, de lhe falar e de lhe ouvir... E como falávamos... e como nos ouvíamos! Seu perfume, nunca mais encontrei, mesmo nas mais finas perfumarias, posto que era uma mistura do exalar de sua pele e de minha imaginação... Assim, entre cheiros e sensaçoes, vivíamos um Universo bem maior do que o que sobre nós pairava... Não importava a chuva, o frio ou, o calor... Todos eles e, cada um deles, simplesmente trazia uma forma nova de lhe sentir, de lhe ver, de seduzir... Era tão  doce, puro carinho, abrigar-me debaixo de sua sempre presente sombrinha e, caminhar, sem se importar para onde... Hoje, lembro bem; você parecia uma daquelas meninas das mágicas praias da Califórnia, dos festivais de rock, da geração  beatnik, com o vestidinho de um colorido feliz; feliz certamente por poder apertar seu corpinho...  Tudo em você me encantava e eu, tudo fazia para lhe encantar... Usava o cabelo a Caetano Veloso exilado em Londres; longo e partido ao meio, adorava Tropicália, era magro como Caetano e, tentava fumar a la Bogart, crente em que, se havia funcionado com Ingrid, porque não com você? Funcionou. Não por causa do cigarro mas, apesar dele... Foram anos mágicos, de incríveis realizaçoes, inesquecíveis, um tesouro que guardo em mim. E, muitas mágicas fizemos; você, alem de mágica, fez milagres... Aconteceu de lhe perder em meio a ventos malignos que sopraram altas e espessas nuvens de ilusão... Reencontramo-nos; sobrevivemo-nos; ressuscitamo-nos... Atravessamos lodaçais de mágoas, prantos, tristezas e desilusões, movidos pela ânima que nunca morre quando esta habita um sentimento verdadeiro. Encontramos do outro lado a nós mesmos, serenamente felizes por rever a  metade querida que se supunha extraviada para sempre... A realidade maior é que, nunca, em nenhum momento, deixamos de conviver naquele Universo perfeito, de ideias fantásticas e sonhos sem despertar, tornados realidade na fé inabalável de que o amor permeia o consciente e o inconsciente, a razão e a ilusão, a lógica e a intuição . Quando o andar foi descompassado incerto e vacilante, valeu-nos a bússola cuja agulha move-se ao sabor dos sentimentos sinceros e impermeáveis as miragens de ocasião... Bom estar com você; muito ruim a presença de sua ausência... Não demore, viu?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

No surf for you...


Perdida na desolada imensidão do deserto que liga Utah a Nevada, estão as ruínas de Iosepa. O exato nome da região onde situou-se a povoação, é Skull Valley, nome que encerra triste mas, inútil advertência. Restam hoje, somente os mortos de um velho cemitério, guardado pelo busto de um guerreiro polinésio que parece mirar Maui, a lembrar o que foi, um dia, no distante ano de 1889, o inicio de um sonho místico-religioso. Estão lá  enterradas, algumas dezenas de mortos, silenciosamente marcando o local onde se desenrolou a saga dos 200 e tantos nativos das ilhas do Pacifico sul que para ali vieram. Eram os polinésios, em sua maioria havaianos que, convertidos por missionários mormons, trocaram suas  ilhas do Pacifico, de tão decantada beleza, pelo  inóspito e inamistoso deserto de Utah, de raríssimas águas e nenhuma vegetação, salvo rala pastagem aqui ou acolá .... Vieram para estar mais próximos do templo de sua nova religião, localizado em Salt Lake City. A história conta que, apesar dos motivos religiosos que os moveram do Havaí para Utah, os imigrantes peregrinos foram vitimas de racismo por parte da fraternidade para a qual se converteram, o que os obrigou a deixar Salt Lake City. Skull Valley foi escolhida como a localidade onde iriam se estabelecer. Ao norte de Skull Valley, localiza-se o Grande Lago Salgado, de mortas águas. A leste e a oeste, desertas e distantes montanhas e, ao sul, sem fim, o deserto. Na cidade a qual fundaram e, em homenagem a Joseph Smith, chamaram de Iosepa (Joseph na língua havaiana), enfrentaram inúmeras doenças, inclusive lepra. A seca levou muitos a abandonar o trabalho agrícola patrocinado pela Igreja e, buscar ocupação em minas da região. Durante heróicos 30 anos tentaram vencer as dificuldades gigantescas, inutilmente. Finalmente, as agruras foram suficientes para convencer a todos; conversores e convertidos, quanto a insanidade do projeto. Os sobreviventes, em sua maioria, decidiram por retornar para suas origens, com o apoio da Igreja. Hoje, Iosepa é uma cidade fantasma, tanto em seu abandono, como em seus mortos, lá , para sempre, sepultados. Há, sim; é verdade, uma cerimonia anual em homenagem aos que ali pereceram, patrocinada pelos descendentes destes e, pela igreja. No que outrora foi a entrada da cidade, surrealisticamente e, em contraposição ao agreste deserto, permanece como prova da imortal e tenaz alegria dos polinésios, uma placa muito azul, com a imagem, de uma palmeira colorida a saudar quem por ali se aventura: "Aloah - Iosepa". Aloha... 



sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nuestros Valores...


Trabalho em uma companhia cujo lema é Integridade, Companheirismo, Dedicação e Execução. É uma tradução chinfrim e descuidada. Não afetará a mensagem que pretendo transmitir. Três línguas permeiam meu dia a dia; Inglês, Espanhol e Português. Trabalho em Inglês, atendo quem não conhece as outras duas línguas em Espanhol e, converso fiado em Português. Muitas vezes, não me lembro em que língua li isto, ou aquilo... Passei ontem por um destes cartazes da empresa onde se lê: Our Values. Não sei porque, traduzi instantâneamente para Nuestros Valores. Desabou em mim uma percepção de hipocrisia. Os mesmo valores, escritos em Inglês, e que norteiam para seriedade o comportamento da companhia, soaram malandramente sacana em Espanhol. Piorou mais, quando pensei em Português...
No mesmo dia, li noticias originadas no Brasil, registrando queixas pela pouca atenção que Obama deu a Dilma, o que não é bem verdade, diga-se de passagem. O encontro durou 90 minutos; o dobro do previsto no protocolo. Concedo aos magoados brasileiros que EUA e Brasil devem ter assunto para mais de 90 minutos de conversa mas, vamos a realidade, fator ao qual, nós brasileiros prestamos desatenção maior do que a dedicada por Obama a Dilma. Objetividade, praticidade e pragmatismo, permeiam a vida do americano, em maior ou menor grau. Presidente americano é 100% isso ai, ou então não teria chegado a esse cargo. Vale chamar a atenção de meus conterrâneos para o fato de que o processo de eleição do presidente, é um massacre para os padrões brasileiros. O candidato começa a disputar o direito de disputar o cargo, dentro do próprio partido, em cada um dos 50 estados, em reuniões que, muitas vezes, lembram discussões de condomínio residencial. A parada é duríssima, com a vida de cada postulante ao cargo de candidato escrutinizada ao máximo. Deslizes de comportamento sexual, matrimonial, financeiro; tudo vem a tona e, se comprovados, não são relevados. Se tiver Valores, chega lá. Assim foi com Reagan; ator, Carter; plantador de amendoins; Obama; negro (somente 10% da população americana é negra), filho de queniano, nome muçulmano (logo após o ataque as torres), ex-assistente social em Chicago...  O que quero dizer é: Quando o sujeito é eleito, há uma enorme respeitabilidade atrás do tratamento: Mister President! Obama sabe bem das falcatruas brasileiras; do passado de guerrilheira de Dilma, até o presente onde esta não perde oportunidade para manifestar admiração pelos assassinos Castro. Sabe bem da nojeira que é a política brasileira; sabe de nossa covardia que impede justiça aos assassinos que atuaram na Revolução, sejam estes civis ou militares. Nunca passamos nosso passado ao presente. Sabe do mensalão. Obama sabe da corrupção que impede ao Brasil a virada final e adesão real ao clube dos desenvolvidos. Pragmaticamente, bem ao modo americano, a Obama só interessa negócios com o Brasil que tragam empregos e dinheiro aos EUA. Nada de fumar charutos juntos... Nada de frases feitas... Dim dim, senhores. Li pessoas falando dos valores dos negócios com o Brasil. Pragmaticamente, os americanos não recusam um dólar sequer. Entretanto, quero lembrar a esses brasileiros que, a soma do faturamento de meia dúzia, se tanto, das dez maiores empresas americanas, é maior do que o PNB brasileiro; ou seja, não merece mais do que 90 minutos de conversa... Por último - e este é um conceito difícil para brasileiro entender, já que contraditório - dinheiro não é tudo para americano. Ele tem a perfeita noção de que, não há investimento que sobreviva se, primeiro, muito antes, Valores não forem respeitados... Ai esta a diferença entre Our Values e, Nuestros Valores ou, Nossos Valores...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sempre o mordomo...

Gosto de filmes antigos. Nem todo filme antigo é bom, claro. Refiro-me a aqueles os quais, um dia,  causaram impressão a mim e a muita gente. Sobreviveram a críticas, a modas e modos, sendo, então, colocados no pedestal dos incontestáveis portadores de mensagem de singular valor. Admiro a elegância dos personagens e, o respeito a atitudes básicas, muitas das quais, já irremediavelmente esquecidas, como por exemplo, a indispensável delicadeza romântica entre homens e mulheres. Nada de - perdoe a grosseria - rapidinhas. Vestígios do Dia é um destes filmes. Reúne os predicados necessários para ocupar lugar especial entre as obras da 7a. Arte. Confesso, sem nenhum embaraço que, nunca soube quais seriam as outras 6, embora algumas sejam óbvias, tais como a Pintura; a Escultura; a Impunidade; a Subtração (sorrateira) do Alheio ou Punga; a Literatura; a Permanência (a qualquer custo) no Poder e, outros dons divinos ou diabólicos. Se a Política é uma das artes, com certeza enquadra-se no segundo grupo.
O elenco, excelente, inclui Emma Thompson, James Fox, Christopher Reeve, Hugh Grant, Ben Chaplin e, com certeza um dos maiores atores de cinema e teatro, Sir Anthony Hopkins. A trama gira em torno do mordomo Stevens (Hopkins) e - adianto - a questão não envolve culpas por assassinatos, e sim aquelas relativas a infrações cometidas contra si próprio. E, estas são muitas e, severas. Acho uma caceteação contar, e ouvir, enredos de filmes. Não sacrificarei a ninguém, portanto. 
Hopkins encarna Stevens, o tradicional mordomo inglês; leal,  discreto, eficiente. Dignidade é o mote de sua vida. A personalidade de Stevens, imune a demonstrações de sentimentos, é submetida a uma sucessão de acontecimentos comuns, embora as vezes trágicos, de uma vida ordinária. As oportunidades nas quais a amizade, o amor, a dor, o riso, o choro, a alegria e a tristeza se ofereceram; a todas elas Stevens resistiu e "venceu", sempre norteado pela fidelidade canina a seu lorde e senhor. Para quem assiste,  uma sequência de metáforas desenrola-se e, é inevitável  não pensar nos caminhos que escolhemos nas encruzilhadas e bifurcações  que a vida nos trouxe. Família, ou trabalho? Amor ou carreira? Aventura ou segurança? Fidelidade a si, ou aos outros? Emoções, ou insensibilidade diante da dor e do prazer? Expor-se ou ocultar-se? As respostas parecem fáceis e óbvias mas, não o são. Muitos fatores influenciam na sorte que lançamos a todo instante em nossas vidas. Pessoas, valores, costumes, níveis de consciência e, mesmo, lugares, para citar poucos, entre muitos outros dados que se interpõem entre o sim e o não, ir ou ficar, matar ou morrer, rir ou chorar... 
Stevens, quando indagado sobre seu conhecimento sobre determinados fatos relativos a conduta de seu lorde e senhor, apelou a ordem e, explicou que não era parte de suas atribuições registrar o que acontecia a seu redor. Apontou suas limitações, muitas delas auto-impostas como parte da disciplina da profissão de mordomo. Seu pai, também mordomo, como exemplo da necessária discrição, orientara que quando entrasse em uma sala vazia, fizesse com que a sala parecesse mais vazia do que antes. Instado a fazer juizo de valor ainda sobre seu amo, dissimuladamente, admitiu que enganos pudessem ter acontecido mas que, sempre prevaleceu a honestidade nas intenções. Repetiu a exaustão sua crença na dignidade, como sendo o grande valor humano.
Pode parecer tibieza do personagem diante de desafios. Pode também ser consequência da certeza de que a vida nao se resume ao que os olhos vêem, e ao que os sentidos detectam. A eternidade,  é uma realidade certa e que lhe pertence. Então, não há razão para ansiedades. O choro de hoje, será o riso de amanhã. Da mesma forma, o amor substituirá o  ódio, o sim tomará o lugar do não; é essa a mensagem que, as vezes, Stevens pareceu transmitir com sua granítica impassividade.
Reencontrou a mulher que o amou e que, possivelmente, ele tenha também amado, 20 anos depois. Sob chuva torrencial, debaixo de um guarda-chuva, dela despediu-se, para sempre, com etéreo sorriso e, um digno cumprimento de chapéu. Parecia sereno e certo do rumo e destino que dera a vida... 

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ateu, graças a Deus?

Duas pessoas, importantes para mim, escreveram-me informando que eu sou ateu. Eu não tinha reparado nisso antes e, somente nesta semana percebi  que tenho - erradamente - induzido as pessoas a entenderem que não creio em Deus. Não que eu tenha a pretensão de achar que isso preocupe rebanhos e pastores, fiéis e infiéis mas - numa prova cabal de minha fé no Senhor - conseguí  ao longo dessa vida, arregimentar um certo número de pessoas que, se não são muitas, me são importantes. Para estas, escrevo. Estou ansioso para explicar, permitam-me, que creio em Deus, sim. Faz muito tempo que tomei emprestado - e nunca devolvi  - um pensamento de Einstein que, ajudou-me grandemente a explicar meu voto em Deus. Não é nenhum pensamento desconhecido das pessoas e, foi constantemente divulgado, aparecendo em diversas publicações, desde almanaques de fazendeiros, que as farmácias davam como brinde e vinham junto com remédios populares, passando pelo O Malho, Pasquim, pixações em paredes da cidade e, agora, com toda certeza, aparece nesse muro sem fim de sabedoria popular, ou não, a que chamamos Google. Einstein disse que - reproduzo como posso - não acreditava em um deus que pune as pessoas em um complicado sistema de prêmios e castigos mas, sim, em um Deus que se manifesta no inacreditável e divino ordenamento das coisas do Universo. É, exatamente, nesse Deus em que acredito. Anos mais tarde descobri que Einstein, também ele, havia tomado o pensamento emprestado a um outro judeu igualmente inteligente, Baruch Spinoza. Valia-se, então, Einstein, da sabedoria de Spinoza para defender-se de rabinos que, rábiamente, o atacavam, mais ou menos como em uma versão judia da Santa Inquisição. Mais tarde ainda, eu próprio reduzi para a minha capacidade de entendimento, a sabedoria lançada a luz pelos dois sábios judeus: Comecei a perguntar-me do porque de certas "injustiças" divinas. Preocupações comezinhas, tais como: Porque será, e como será, que Deus escolhe entre ouvir as preces da mãe de um soldado e, não a de outro? É possível complicar a pergunta a "n" possibilidades, como por exemplo: E, porque Ele ouviu a prece de uma boa mãe para salvar um soldado ruim, e não ouviu a prece de uma mãe ruim para salvar um soldado bom? A questão fica definitivamente confusa, quando mães e soldados são todos bons e, somente um deles é escolhido para morrer... Porque deixou o Barcelona ganhar do Santos, perdendo a oportunidade de dar uma lição de humildade ao mundo, fazendo com que o proletário time do alvinegro praiano ganhasse do milionário time do Barcelona? Há um mar de amargas humanas lágrimas, quando a situação envolve crianças. Ai sim, Deus excede em maldades; coisa de - possível fosse- matar o mais abominável dos demônios de inveja! Claro, tudo isso é uma brincadeira, acalmem-se fiéis. Tenho absoluta certeza de que Deus não cuida de paixões humanas. Os gregos inventaram um deus para cada uma delas mas, as paixões humanas evoluíram e, seus deuses não lhes valeram. Em último cavalo de Tróia, os empurraram para os romanos. E, vale-lhes muito menos ainda agora, diante da monumental crise do Euro; não resisto a ironia. Esses deuses, filhos de nossas paixões, vivemos a criá-los em nosso dia-a-dia, ao sabor de nossa convenienciadisposição ou, simples preguiça. Diga uma palavra errada a uma pessoa e, você criará  um demônio. Essa mesma pessoa, no minuto seguinte, sob o efeito da palavra certa a ela dirigida por um outro alguem, se tornará  um anjo. É assim que criamos satãs e deidades e os deixamos a perambular pelas ruas das cidades.  Um dia, ensandecidos, transformam nossas vidas em inferno. E, ai, pedimos que Deus nos socorra. Valho me do velho e bom Einstein para repetir: tudo é relativo. Deus, com "D" maiúsculo, não é relativo. É absoluto. Enxergar o absoluto, não é tarefa simples.
Então, repito: não sou ateu e nem tampouco agnóstico. Sou, sim, decididamente, contra toda e qualquer religião. Deus, com "D" maiúsculo, une. As religiões, separam, dividem, as pessoas. Sou visceralmente contra livros que definem povos escolhidos de, não escolhidos. Deus não escolhe ninguém, visto que tudo e todos são parte Dele. Como pode você odiar a si próprio; escolher partes de seu "corpo" em detrimento de outras? Deus tem sido, desde sempre, reduzido a "deuses", pelas religiões. Um deus vingativo, que incute medo, que toma partidos, que julga e pune. Não é assim. Deus é  bem mais esperto do que isso. Para essas pequenas tarefas de "punir" e "premiar", criou um sistema de escolhas & consequencias e, deixou-nos livres; posto que a liberdade é o maior bem que uma vida tem. Não é necessário que nenhum homem intermedie seu relacionamento com Deus. Não precisamos de papas, rabis, imans, aiatolás, pais-de-santo, santos, nada... Não precisamos de ídolos; Elvis, Lennon, Marley, Satia Sai Baba, ninguém... Não precisamos de grandiosos templos, estas ridículas bajulações de concreto e mármore, onde se reunem pessoas para entrar em contato com Deus, como fosse esse um trouxa qualquer que pudesse ser engambelado com pobres ou ricas oferendas, isso sim, um verdadeiro conto-do-vigário aplicado contra o coitado do Supremo (não o Federal; que ali não há otários)... Por tudo isso, repito, tenho aversão a religiões e, entendo que são elas o último grande atraso a ser sobrepujado. E, será. Com a ajuda de Deus...