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quarta-feira, 15 de abril de 2020

E, depois do virus?

São muitas as especulações sobre o que será a vida pós-virus. Morbidamente mas, fiel a atual realidade trágica que se impõem a todos os viventes, é honesto desenganar-se e atestar que, na falta de droga eficaz, pode ser que nada restará senão vergar-se a autoridade da morte e, quem sabe, receber generoso perdão, caso não praguejemos no suspiro final e aceitemos, abnegadamente, a decisão do Grande Algoz. Mas, morte, já foi dito com grande propriedade, é sempre assunto para depois. Vamos aos destroços que restarão aos sobreviventes, nessa análise que não tem a pretensão de balançar os alicerces do Wall Street da atormentada Nova York, tampouco causar abalo a opinião dos investidores do Bovespa da imprudente Sao Paulo.

A consolidação de uma nova realidade, qualquer seja ela, depende do desenvolvimento de droga que cure o paciente em casa, dispensando internações e recursos como respiradores, camas, máscaras e, pessoal médico. Vacina, tudo indica, não estará disponível antes de 1 ano, ou mais. Pensando na AIDS diante dessa nova praga, verifico mais uma vez que, o pior problema, é sempre o último com o qual temos de lidar.

Durante o tempo necessário para que se descubra droga que cure, remedie, ou traga imunidade, o cenário futuro não é animador. Se as pesquisas e produção da droga demorarem além do que as economias das famílias durem e, os fundos públicos possam garantir a subsistência dos menos favorecidos, as falências, queda de produçao, queda de renda e, inflação serão possibilidades reais. Desordem social não será surpresa. Hordas de desempregados trarão aumento da criminalidade. Saques, assaltos e latrocínios farão parte do cotidiano. A polícia terá de ser equipada e treinada para evitar contaminação ao lidar com a prisão de bandidos, e com aprisionados. Às cadeias e penitenciárias se tornarão um amontoado de contaminados e celeiros de vírus. Dai, ser imperativo que a corrida rumo a droga salvadora, seja vista como a nova corrida do ouro; a busca ao Santo Graal no século 21; a luta pela salvação da vida urbana como a conhecemos durante esses últimos 3 ou 4 séculos.

A queda de renda, e de procura, poderão não ser suficientes para compensar a diminuição da oferta de bens causada pela queda de produção, principalmente de itens essenciais, tal como alimentos. Assim, a escassez de bens, alimentará a alta de preços e, inflação. Não é exagero pensar-se na volta da ciranda financeira, provocada pela alta dos juros pagos pelos bancos. Estes, na ânsia de obter lucros emprestando os recursos captados aos necessitados de crédito, oferecerão retorno alto aos investidores, desestimulando o trabalho que produz bens, alimentando a alta de preços; a inflacao.... Mas, o grande causador da alta dos juros será, mais uma vez, o govêrno que, para compensar a queda de arrecadação provocada pelo quadro recessivo, irá buscar dinheiro no mercado financeiro, competindo de forma desigual com o empresário que precisa de capital para produzir bens. Solução? Opçoes? Primeiro, esquecer as metas de endividamento público, naquilo que o vulgo, em linguagem simples mas avalizada pela realidade, classifica como entregar os anéis, para salvar os dedos. Em segundo, lançar bônus do Tesouro por ser este o método menos inflacionário, embora recessivo e, terceiro, se inevitável, imprimir. Utilizar os recursos captados para, em primeiro lugar, financiar um programa de renda mínima para manter a população mais carente alimentada, longe da criminalidade, saudável e fora dos hospitais públicos. A produção de alimentos, incentivada pelo consumo da população carente, manterá a agricultura em funcionamento e gerará consumo de maquinário e insumos agrícolas. Em outra frente, aplicar recursos em obras de infra-estrutura; rodovias, estradas de ferro e, manutenção das já existentes. 
Será preciso grande demonstração de parte dos políticos, de desapego ao poder e, de entendimento da gravidade do momento que atravessamos. E, ai, estará um dos grandes obstáculos a sobrevivência nesta hora difícil. O começo tem sido pouco promissor, já que o governo está a guerrear consigo próprio. É absurdo o grau de divisão que impera entre Jair Bolsonaro, Mandetta, Weintraub, militares e, os filhos de Bolsonaro. Não é difícil imaginar os extremos a que chegarão, a medida em que se aproximam às eleições e a crise se agravar. A História ensina que, nessas horas, a solução latina, é o golpe militar. Não será diferente desta vez, caso o cenário se confirme. Os militares continuam muito apegados ao jogo político; basta verificar os cargos que ocupam na administração Bolsonaro. Ainda assustados com o fracasso da Revolução que brindou o país com um sem-número de presidentes e governadores assaltantes, desta vez preferiram tomar o poder por vias democráticas, ao invés de um golpe militar. Apostaram e ganharam elegendo o capitão que, apesar de causador de confusão no Exército, tinha a vantagem de ser deputado federal e, assim, supostamente, conhecer a selva política brasileira. Não se confirmou. O desastre que se aproxima inexoravelmente, dada a incapacidade e burrice de Jair, foi agora catalizado, acelerado, por um vírus arrasador e inesperado. Já não resta dúvida de que consequências funestas, sociais e econômicas, em todos os quadrantes do planeta, surgirão. E, como mais uma vez ensina a História, dúvidas sobre quem dita a nova ordem, serão dirimidas pelos países que têm  o dólar maior, ou o porrete maior, nessa exata ordem. Ao Brasil, caberá o papel de continuar a vender a mão-de-obra barata de seus trabalhadores pouco treinados, pouco ou nada, formalmente educados, produzir bens do tier secundário da economia e, vender insumos básicos dessa terra onde, se procurando, plantando, tudo dá, tudo se acha… principalmente incompetência e desonestidade de seus políticos vagabundos e aventureiros..

Socialmente, é possível que haja um distanciamento das massas em relação às religiões. Pode ser otimismo exagerado mas, não custa nada esperar que as pessoas enxerguem que seus pastores, curandeiros e sacerdotes, são tão impotentes quanto eles próprios diante das desgraças e cataclismas. Que mais vale a presença de amigos que trazem apoio moral e/ou financeiro, do que a de mercadores de alma e de votos. E que, não; Deus não está no comando. É estúpido dirigir esta nave de forma louca e, depois passar o comando a Deus. Tecnicamente, embora as perdas emocionais sejam imensuráveis, estão se dando melhor os países que se prepararam para a desgraça indo a escola e aprendendo a fabricar mais rápido e mais barato, respiradores e máscaras. Vide a atéia China e, os estudiosos EUA. A vacina e outras drogas, com certeza, virão dos países que têm às melhores universidades e que, preferiram estudar e fazer sua parte, antes de entregarem o comando a Deus. Se Israel descobrir a vacina e outras drogas, não é porque é a Terra Prometida mas, é porque seus filhos vão à escola e foi assim que venceram 25% dos Prêmios Nobel distribuídos. Fé é importante mas, somente para pedir a Deus clareza e pensamento lógico para tomar decisões e resolver problemas. A morte é certa, com ou sem fé. O resto, é pensamento primitivo que, admito, ajuda a matar o tempo mas, pode, também, matar pessoas.