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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Pedra

by Piresvs
Se um dia, atento geólogo examinar com cuidado as paredes íngremes, de decidida verticalidade, do imponente Pico do Itabira, irá ali encontrar as marcas de meu espantado olhar de menino. A gigantesca rocha ergue-se quase meio quilometro em direção ao céu, como houvesse furiosamente rompido a superfície, depois de impetuosa viagem desde as profundezas da Terra. Não bastasse a pétrea realidade de sua presença monumental, o Itabira é cercado de lendas desde sempre... Em minha infância, dizia-se ser a pedra, oca, de imenso vazio impossível de ser explorado; vazio este que desafiava as então inigualáveis tecnologia e ciências americanas... Nunca soube com certeza se o Itabira é mesmo oco. Para mim, ele sempre foi cheio. Cheio de fantasias, mistérios e encantos. Um tio meu, filho adotivo de minha avó, depois de criado foi viver ao pé do Itabira. Das grandes perdas que contabilizo da infância, entre elas está a de nunca ter mantido contato maior com esse parente, salvo uma longínqua e solitária visita, de data incerta e já completamente extraviada na memória. Lembro dos muitos e altos pés de manga e da, então ainda existente, espessa mata atlântica a encobrir a visão completa a qual esperava eu ter do Itabira, depois de longa caminhada até o sitio de meu tio. Anos mais tarde, eu iria aprender que, grande parte das poucas coisas realmente boas da vida, aprecia-se melhor a distância... Eu, menino, não percebi a lição que a solida pedra ali a mim ministrava, desde sua milenar certeza.
Hoje, vi entre fotografias de um certo primo, o velho e singular granito, sempre altivo, certo, impassível e absoluto, sábia e eternamente a apontar para o céu. Já não tem mais tanta mata a sua volta, a emoldurar seu escuro corpo. Não precisa dela. Vive de si e, nada mais. Como sempre aconteceu, ainda que em foto, meu olhar nela fixou-se por um tempo e, depois se foi, insaciado em minha eterna admiração e respeito pelo Itabira. Tenho a esperança de, um dia, la voltar. O que não tenho, é a força e a resistência ao tempo, qualidades as quais sobra a "Pedra de Pé", nome traduzido do tupi-guarani. Se acontecer de eu cair antes, espero que me seja concedido o ultimo desejo de la passar e reforçar as marcas de meu olhar de menino diante da simplicidade bela e sem fim da velha Pedra.