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terça-feira, 21 de junho de 2011

A Teoria da Relatividade e o Brasil

Estive recentemente visitando o Brasil. Estava, um pouco, curioso para ver de perto, sentir, absorver o quanto possível, o momento positivo que vive o país. Tal como eu suspeitava, o tal momento bom resume-se a números e estatísticas. A vida real, ali na dureza do asfalto congestionado pelo trânsito infernal das grandes cidades, no ar impregnado de poluições diversas, nos preços altíssimos dos bens - e também dos males - de consumo, nas calçadas cheias de cocô de cachorro e obstáculos para cadeirantes (o termo "cadeirante" foi a única melhora na vida dos deficientes físicos) e, a iminência de um ato violento a desabar sobre sua vida a qualquer momento, tudo isto somado, dá a vida diária uma qualidade muito ruim. Os números podem ser vistosos; ótimos para financistas e investidores. De quebra, ocupa muitas pessoas mas, não observei avanços palpáveis, tais como melhores moradias para a massa, preços acessíveis, melhores ruas e estradas, cidades menos agressivas e - chega a ser patético mencionar - mais acolhedoras. Não falarei de escolas; não tenho contato direto e, tudo que sei, vejo nos jornais; a dura realidade de estabelecimentos depredados e ruins, é o diário na vida de professores e alunos, somados a salários miseráveis; soma cujo resultado é sempre negativo.  Notei sim, um nível de stress maior em boa parte das pessoas com quem mantive contato.
Sempre fui péssimo em Física, entre outras matérias mas, o pouco conhecimento que amealhei, permitiu-me lembrar do velho Einstein a ensinar que toda noção de movimento é relativa entre o que se move e o que observa o movimento e que, o tempo é uma noção que depende da velocidade. O Brasil é complexo; meu conhecimento da Teoria da Relatividade é pequeno e simples, de modos que paro por aqui. Entretanto, foi fácil perceber que boa parte da melhora brasileira, é relativa. Relativa a um mundo que vai mal; que parou, enquanto o Brasil se movimenta. Até aí, nada demais. É do jogo tirar vantagens econômicas em momentos favoráveis a um e contrários a outros. O que está errado, é pensarmos que conseguimos evoluir e ultrapassar economias e sociedades que se desenvolveram a séculos e que, apesar de estarem muito mal, continuam a nossa frente. Esse ufanismo é tolo, inconsequente e, serve somente para nos manter no atraso. Exemplos concretos: Atualmente, você encontra o automóvel que desejar para comprar, seja la qual for o modelo e a marca. Temos carros de todas as procedências mas, nenhum brasileiro. E todos custam uma fortuna. O Civic, para ficar em uma marca e modelo populares, custa a indescência de R$ 62.000,00 ou aproximadamente 38,000.00 dólares. O preço real deste carro, exagerando, é 20,000.00 dólares. Ou seja, você compra dois e, leva um, na maioria das vezes para pagar a prazo. Nesse caso, os juros mais altos do mundo praticados pelo país, faz com que você acabe pagando por 3 Hondas Civics, enquanto que um só está em sua garagem.
Somos auto-suficientes em petróleo e álcool mas, pagamos preços exorbitantes por um combustível ruim e mal-cheiroso, para rodar em estradas assassinas, como fui arriscado a fazer por vários dias em viagem. O aeroporto da maior cidade, do maior estado do país é simplesmente ridículo... e caro.
Ao brasileiro comum, é difícil compreender a Teoria da Relatividade. A mim também mas, seria minimamente imprescindível entender que, o Brasil sequer subiu para o patamar onde certos países caíram. Esse Exercito de Brancaleone precisaria ter melhor noção do que se passa em outros lugares do Planeta em que vive. Quando fala-se de crise na Espanha, essa crise esta longe de afetar gravemente a qualidade de vida dos espanhois. Com certeza, afetara o PIB, PNB, as importações, o preço do óleo de oliva, a frequência do Benidorm mas, pára por ai. A qualidade de vida nos países desenvolvidos, apesar da crise, cai até um certo patamar; patamar que está muito acima dos países subdesenvolvidos ou em grande estágio de desenvolvimento.
Para quem se lembra, uma vez em governo de direita, ditadura militar duríssima, o Brasil cresceu e, nos ufanamos. Pra Frente Brasil! Ame-o ou deixe-o! Era o Brasil cantado por Don & Ravel, este recentemente falecido. Delfin fez o bolo crescer mas, não o repartiu. Era o Brasil "maior que o buraco". Era o Brasil que Médici, duro e insensível ditador, diagnosticava a situação como sendo "...o Brasil vai bem; o Povo vai mal...". Ironicamente, hoje o bolo esta ai crescido e crescendo nas mãos da esquerda que combateu aquela mesma ditadura de direita. De novo, não vejo os problemas estruturais sendo combatidos: Educação; nota zero. Fizemos bastante? Pode ser mas, o bastante é muito insuficiente; nem vou desculpar-me pela redundância em um país cujo Ministério da Educação mandou a concordância e a elegância da língua para o lixo. Justiça: Qual Justiça? A que permite que um deputado federal condenado e caçado pela Interpol represente o maior estado brasileiro? A que permite que um ex-presidente caçado por formação de quadrilha e bando volte ao senado? São tantos os casos de desmando judicial que, não perderei tempo e não esgarçarei a paciência de quem me lê desfiando o rosário de iniquidades que medram na sociedade brasileira... Violência: Jamais compreenderei a razão pela qual os órgãos internacionais não classificam a situação brasileira como "calamitosa" a luz do número de pessoas criminosamente mortas. São números de guerra e, garanto; estão no topo de qualquer lista de número de mortos em guerras nestas últimas décadas. Enquanto tudo isto acontece, o  Brasil brinca de modernidade discutindo com fervor causas que, generosamente falando, não tem a menor prioridade: casamento gay, marcha da maconha, cartilha sexual, BBBs... Adora tudo que eh "fashion", não importa o quanto contraditório seja: Detesta o sistema politico americano mas adora Facebook, Hollywood, Internet, Ipod, Pads e outras quinquilharias que estufam os cofres americanos de dinheiro. Admira o conservador Iran mas, tem um motel em cada esquina e, o sensualismo é utilizado até mesmo para promover a abstinência sexual; acha Cuba e Fidel o máximo mas, vai mesmo é para Miami, adora futebol mas, seus craques vão todos para a Europa e, segundo Romário, que não eh nenhum apóstolo, a Copa só sai no Brasil se Jesus voltar... Tenho certeza de que não voltará...
Enfim, De Gaulle continua e está cada vez mais atual em sua afirmação: O Brasil não é um pais sério. Resta agarrar-se aquela frase de rara lucidez do Hino Nacional: Gigante pela própria Natureza... porque, com raras exceções, se depender dos brasileiros, será sempre um pequeno gigante a pisotear seus filhos... E não culpem somente os políticos, pois que estes saem de dentro das famílias brasileiras e, lá estão por voto direto e distraído de brasileiros... Escola não é passatempo... Escola é passaporte para o Futuro!