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sábado, 31 de dezembro de 2011

A Arte da Navegação...

Mais um porto, o 2012, nesse rio de águas rápidas e impossíveis, que não permite que se navegue contra a corrente; o Rio Tempo. No começo, é muito divertido; há quem reme e rume por você... Depois, você acha que é fácil, quer ir sozinho; até mesmo reclama que o Rio é lento... A viagem é bela e, as forças são todas suas... Quer dividir essas belezas com alguém e, a mágica do Rio e suas paisagens, inebriam. Disputa com outros navegantes a capacidade de achar melhores vias e rotas... As corredeiras fazem vítimas ao longo das águas e, quem as vence, aprende e ensina... Há os que chegam ao seu último destino, após vencer todos os redemoinhos e cantos das sereias e, as lembranças são seu maior prêmio. Que aventura! Repetiria tudo outra vez! Outros, suas últimas atracagens não são feitas em destinos felizes; Desengano, Amargura, Solidão... Uns poucos, corrigem a rota e, rumam aos portos da Humildade, do Arrependimento e, do Perdão onde, então, pacificamente, lançam definitivos ferros a águas que não cessam.  Mas, há aqueles que permanecem a lutar em  águas tristes e impiedosas. Arrebentam-se nas pedras e, soçobrassam em fossas abissais, sem chance de retorno ou socorro... Serão, um dia, dizem os Sábios do Oriente, içados ao porto da Divina Providência... Pode parecer navegação de cabotagem mas, requer capitães de longo curso... Feliz Ano Novo!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates e Compay Segundo

Morreu Sócrates. Sempre que ocorre uma morte, surge uma oportunidade para meditar sobre o sentido da vida. Especialmente, nas contradições nas quais, caprichosamente, esta nos envolve. Sócrates, como todos sabem, era médico; pediatra. Especializou-se em um ramo da medicina cuja função é preservar a vida de crianças. Suicidou-se lentamente, usando como meio de extinguir-se, hábitos perniciosos a sua clientela; o fumo e o álcool. O que leva um homem dono de portentosa inteligência e dons naturais, a auto-mutilar-se e impor-se morte certa e degradante? O leque de possíveis respostas pode se originar na alta fonte dos pensadores e filósofos alemães e gregos, na fluida mas insofismável doutrina budista ou, em botequins brasileiros onde Sócrates, com certeza, matou, afogados, muitos destes questionamentos. É possível que não haja uma só resposta e que, entre elas esteja o simples desencanto com a vida. A certeza de que tudo que aí esta, é uma repetição do capítulo de ontem - vide Salomão - e, assim, não vale a pena esperar o capítulo de amanhã. Sobre isso, cada um tem o direito de arguir o que melhor entender, porém, não tenha a ilusão de que seu argumento venha, de hoje em diante, mudar a compreensão da vida pelas pessoas, para sempre... As perguntas irão se repetir. A resposta, por mais verdadeira seja, não tem o poder de evitar que a pergunta volte a ser formulada no futuro, por diferentes pessoas. É da vida que as lições sejam aprendidas individualmente; daí a nossa eterna solidão, irmã gêmea da liberdade.
Fernando Henrique acaba de ter uma de suas frases incluídas entre as 10 maiores besteiras de todos os tempos; "Não vamos prometer o que não dá para fazer. Não é para transformar todo mundo em rico. Nem sei se vale a pena, porque a vida de rico, em geral, é muito chata". Parece-me lembrar de que ele tenha, realmente, feito esta declaração. Isto não importa; minha lembrança ou, não, é irrelevante. Aconteceu de ontem, antes da morte de Sócrates, eu estar escarafunchando o Youtube procurando por músicas cubanas, mais exatamente de Compay Segundo. Todo mundo que aprecia boa música, conhece o Buena Vista Social Club. Sabemos, há muitos outros, Pablo Milanés, por exemplo, entre os grandes músicos cubanos. Mas, fiquemos em Compay Segundo, um monstro no mundo musical, tendo, mesmo, inventado um outro modelo de violão, já que o original como o conhecemos, não era capaz de reproduzir a genialidade de sua música. A alegria estampada no rosto de Compay, vem da alma. É tocante vê-lo fazer apresentações em palcos cubanos de dolorosa pobreza. A falta de tudo, é gritante; desde simples bancos para os músicos, até, modestos que fossem, aparelhos de som e iluminação. A alegria que vem da alma de Compay, supre todas as ausências materiais. Uma vez, Compay disse que iria viver até os 115 anos. Não houve acordo. Foi obrigado a cumprir um contrato, ao qual ele não assinou, e mudou de endereço, já em seus 96 anos, indo apresentar-se em outras paragens. Compay atribuía sua longevidade a uma certa alimentação a base de carne de carneiro e, a boa qualidade do rum cubano, a qual eu, humildemente, endosso. Não como carne de ovelha, salvo depois de 12 doses de rum cubano. Sócrates, rico, bem formado, e seu apego-escravidão ao inferno da bebida e, a alegria de Compay vivendo e vencendo em meio a misérias de toda ordem, levam-me a crer que FHC não está de todo errado em sua declaração, o que reduz em muito a posição de sua frase no ranking das maiores bobagens já ditas. Arrisco sugerir que ele troque o radicalismo de "em geral" por "as vezes". Ou então, vamos admitir de vez que, o mundo é composto, em sua quase totalidade, de idiotas, já que essa mesma totalidade busca uma maneira de tornar-se rica e, materialmente provida. Prefiro ficar com duas frases terrivelmente corretas: Dinheiro não é tudo mas, é 100% (Falcão). "O caminho certo não é o da esquerda e nem o da direita mas, o do meio" (Buda). Enchamos o copo mas, vamos esvaziá-lo com vagar; saboreando, sem engasgar e, pagando pelo que se bebe.