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domingo, 4 de julho de 2010

O Último Tango

Carlos Barria/Reuters  
Hollywood tem a calçada da fama onde, todos sabem, há marcas dos grandes ilusionistas da 7a. arte. Ali, aglomeram-se pessoas a buscar a marca de uma mão, de um pé, de uma pata de animal ou, de uma assinatura, em frente ao teatro chinês. O lugar é  melancólico e decepcionante. Só mesmo Hollywood para nos enfiar aquela patetice garganta abaixo. Tenho secreta convicção de que, parte do ódio muçulmano aos judeus, deve ser debitado a Samuel Goldwin e Louis Mayer (MGM). Estive lá, não vou negar. Pior; por força de cortesia a amigos que nos visitavam, voltei e, isso é verdade. Tirei uma foto com uma réplica muito boa de Marilyn Monroe e, não pude resistir a canalhice de murmurar no ouvido dela: Sou a reencarnação de Jack Kennedy.... Acho que ouviu a "gracinha" inúmeras vezes, pois respondeu de bate-pronto: Você está muito bem pra sua idade... Reparei que "Marilyn" trazia um discretissimo crachá aludindo a uma das milhares de seitas religiosas que infestam o sul dos EUA e, achei prudente não retrucar. Tenho certeza de que ela tinha ramificações com a Ku Klux Klan e eu tenho lá um pé na cozinha e, outras pendências...
O que levou-me a pensar na Calçada da Fama e o Teatro Chinês - veja que a China nos empurra tranqueiras, não é de hoje - foi Maradona. Creio piamente que, se um dia, alguém retirar as velhas pedras que calçam a Boca, a exemplo de Hollywood, encontrará nelas, gravados, além dos nomes de Diego Solís, Ástor Piazzola, Gardel, Susana Rinaldi, Libertad Lamarque e - porque não? - o nosso Carlos Galhardo, o nome de Diego Armando Maradona. Que personagem! Metido em seu jaquetão, fumando charuto, brincos duplos, bigode e vistosa cabeleira encimando o rosto marcado por incontáveis mal passos vida afora, Don Diego manteve vivas as cores folclóricas do futebol e de sua latinidade. O antigo gênio do futebol argentino, agora encarnado em bizarra figura, sozinho, fez o que Hollywood precisa de toda uma trupe para conseguir o mesmo efeito: iludiu. Maradona, primeiro, iludiu toda Argentina e, conseguiu o posto de técnico da seleção. Depois, reduziu a expectativa de vida da população portenha pela metade, ao quase não conseguir a classificadão para o Mundial. Em outra mágica, corrigiu o rumo e foi a Africa do Sul, cercado pela aura  de  último representante vivo da fleuma de sua raça. Lá, iludiu toda uma audiência de bilhões de pessoas, com passitos de tango, rodopios, expressões faciais variadas, beijos e animados afagos  em seus jogadores, em cada pulso um relógio e, um misterioso amuleto sempre a rolar na mão esquerda.  Dieguito dividiu - e ganhou -  a atenção das câmeras durante as transmissões dos jogos da Argentina. Perdeu as pelejas mas, venceu a propaganda em torno de seu nome, vital para sua sobrevivência como personagem popular. Exibindo a velha malicia dos campos de futebol, deu cotoveladas em Pelé e Platini, trazendo as luzes da ribalta sobre si. Tomou o troco tanto do Rei como do francês mas... saiu a francesa. Maradona, com suas sovadas milongas, continua vivíssimo. O ultimo tango ainda não tocou e, talvez, nunca venha a tocar... ao menos, não na velha Argentina, terra que tanto necessita de caudilhos e suas repetidas ilusões...

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