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terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma pintura...

Alguém enviou fotos de Salvador Dali. Coloco dessa forma indefinida, porque não lembro quem mandou e, nem para quem mandou. Não importa. Todo mundo merece ver Dali. Tenho uma queda por pinturas. Não, não sou nenhum marchand, nem tenho qualquer treinamento formal para olhar, analisar uma pintura. Também, não quero e, não se trata de pedantismo. Simplesmente, acho que isso deforma a visão que se pode ter da obra. Prefiro ver no original; primitivamente, assim como quem se depara com uma bela paisagem no caminho, um luar, um nascer ou por do sol... Se eu souber que meu interlocutor é psicólogo ou coisa que o valha, sinto-me desconfortável e, a conversa perderá em sinceridade. Essa gente tem padrões e standards para tudo e para todos. São pessoas que tem o meu respeito mas, jamais sentarei para beber e falar de vícios, desacertos, alegrias e contrariedades; essas coisas que me caracterizam como um ser humano... Se acontecer, vão achar que estão a conversar com um desses robôs japoneses, criados para fazer companhias a almas solitárias. Tomam uma carga de bateria, enquanto você toma um saquê. Para cada palavra chave que ouvem, devolvem um cliché. É assim, imagino, que as pinturas e os pintores devem se sentir diante dos marchands. Voltando a pinturas, não quero que me digam o que atormentou Van Gogh. Prefiro olhar e, assustar-me diante das linhas tortuosas lembrando chamas coloridas que consomem a alma. A ousadia desses catalães, mal-educados, rebeldes sem idade, que lhe atiram no inverossímil sem nenhuma piedade, é monumental. Ao final da contemplação de uma pintura, pego meu fôlego perdido e, reconheço minha pequenez diante destes gigantes dos sonhos e, volto a minha ridícula vida permeada por lógicas... Velásquez! A Velásquez! Caravaggio! Minha poderosa Cannon não passa de um giz de cera, quando comparado com o olho que vê desses seres esquisitos que são os pintores. Não hesitaram em realçar os detalhes do Universo... E a vida está nos detalhes, que meu olho nunca vê, meu coração não sente, e minha alma passa ao largo, eternamente seduzida pelo Todo, esse sim, tão ilusório.

domingo, 4 de julho de 2010

O Último Tango

Carlos Barria/Reuters  
Hollywood tem a calçada da fama onde, todos sabem, há marcas dos grandes ilusionistas da 7a. arte. Ali, aglomeram-se pessoas a buscar a marca de uma mão, de um pé, de uma pata de animal ou, de uma assinatura, em frente ao teatro chinês. O lugar é  melancólico e decepcionante. Só mesmo Hollywood para nos enfiar aquela patetice garganta abaixo. Tenho secreta convicção de que, parte do ódio muçulmano aos judeus, deve ser debitado a Samuel Goldwin e Louis Mayer (MGM). Estive lá, não vou negar. Pior; por força de cortesia a amigos que nos visitavam, voltei e, isso é verdade. Tirei uma foto com uma réplica muito boa de Marilyn Monroe e, não pude resistir a canalhice de murmurar no ouvido dela: Sou a reencarnação de Jack Kennedy.... Acho que ouviu a "gracinha" inúmeras vezes, pois respondeu de bate-pronto: Você está muito bem pra sua idade... Reparei que "Marilyn" trazia um discretissimo crachá aludindo a uma das milhares de seitas religiosas que infestam o sul dos EUA e, achei prudente não retrucar. Tenho certeza de que ela tinha ramificações com a Ku Klux Klan e eu tenho lá um pé na cozinha e, outras pendências...
O que levou-me a pensar na Calçada da Fama e o Teatro Chinês - veja que a China nos empurra tranqueiras, não é de hoje - foi Maradona. Creio piamente que, se um dia, alguém retirar as velhas pedras que calçam a Boca, a exemplo de Hollywood, encontrará nelas, gravados, além dos nomes de Diego Solís, Ástor Piazzola, Gardel, Susana Rinaldi, Libertad Lamarque e - porque não? - o nosso Carlos Galhardo, o nome de Diego Armando Maradona. Que personagem! Metido em seu jaquetão, fumando charuto, brincos duplos, bigode e vistosa cabeleira encimando o rosto marcado por incontáveis mal passos vida afora, Don Diego manteve vivas as cores folclóricas do futebol e de sua latinidade. O antigo gênio do futebol argentino, agora encarnado em bizarra figura, sozinho, fez o que Hollywood precisa de toda uma trupe para conseguir o mesmo efeito: iludiu. Maradona, primeiro, iludiu toda Argentina e, conseguiu o posto de técnico da seleção. Depois, reduziu a expectativa de vida da população portenha pela metade, ao quase não conseguir a classificadão para o Mundial. Em outra mágica, corrigiu o rumo e foi a Africa do Sul, cercado pela aura  de  último representante vivo da fleuma de sua raça. Lá, iludiu toda uma audiência de bilhões de pessoas, com passitos de tango, rodopios, expressões faciais variadas, beijos e animados afagos  em seus jogadores, em cada pulso um relógio e, um misterioso amuleto sempre a rolar na mão esquerda.  Dieguito dividiu - e ganhou -  a atenção das câmeras durante as transmissões dos jogos da Argentina. Perdeu as pelejas mas, venceu a propaganda em torno de seu nome, vital para sua sobrevivência como personagem popular. Exibindo a velha malicia dos campos de futebol, deu cotoveladas em Pelé e Platini, trazendo as luzes da ribalta sobre si. Tomou o troco tanto do Rei como do francês mas... saiu a francesa. Maradona, com suas sovadas milongas, continua vivíssimo. O ultimo tango ainda não tocou e, talvez, nunca venha a tocar... ao menos, não na velha Argentina, terra que tanto necessita de caudilhos e suas repetidas ilusões...