Páginas

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mantenha-se vivo...!!!

Eu ia falar de uma espécie em extinção - mais uma - a dos indignados mas, vejo algumas fotos no jornal on line, que encorajam-me a adiar por um dia mais, meu humilde, não requerido, distante grito a juntar-se a tantos outros a denunciar que, não há mais reserva moral, não há mais ânimo; declararam-se sitiadas e derrotadas as últimas forças do que, um dia, foi o Exército dos Indignados. Prefiro falar de um grito de resistência. Um grito de um velho roqueiro a berrar em inglês: Eu continuo vivo! Não me sepultem! Trata-se do bom e resistente Peter Frampton. É bem possível que, alguns amigos e colegas não se lembrem de Frampton (...eu ia falar companheiro mas, achei que poderia ser ofensivo e, preferi "colegas"...). Ele próprio, em seus 60 e poucos anos, ciente do destino fatal que é o esquecimento, dirigiu-se a um contemporâneo que cantarolava uma de suas composições durante o show, agradecendo o prestígio emprestado a sua canção. Humilde, perguntou ao sujeito de cabelos grisalhos: "Do you know me? I'm Mr. Frampton... Acredito que seus pais possam me conhecer..." A simpatia do gesto, transmitida pelo corpo surrado pelas noites, pelas drogas (garantiu que, agora, somente as de prescrição médica...) e, pelo natural decorrer dos anos, mandou uma mensagem de fé, de resistência, de simplicidade, de bondade. Frampton já não ostenta nenhum fio original da portentosa cabeleira, que balançou corações de todos os sexos (eu ia, preconceituosamente, dizer "femininos"). Tem agora uma pronunciada e reluzente cabeça pelada, um sorriso que, discretamente, denuncia o tradicional humor sarcástico dos britânicos, estressado por dentes que, quando sorri, lembram o riso de vagabundo personagem de desenho animado... Enfim, uma figura. Imagino que conversar com Frampton, mesmo que bebendo água, seja um dos melhores papos disponíveis nesses tempos de cabeças estéreis e aborrecidas. Completa a estampa, os braços finos, quase delicados, denunciando que, a maior parte do tempo da existência de quem os possui, foi gasta a segurar uma guitarra, as mãos a colher solos e acordes geniais. A quem ouve, chega a irritar, entristecer, quando Peter para de tocar... e, ele sabe disso, diverte-se com isso, saboreia o prazer que oferece a sua fiel platéia de "garotos", a maioria destes há mais de meio século pisando este planeta maluco...
Peter Frampton avisa no início do concerto que, irá tocar as músicas de seu último álbum, gravado há longínquas décadas atrás; "Frampton Comes Alive". Jocosamente, ele muda o nome do show para "Me comes alive"...Tocou, também, músicas de antigos roqueiros, Clapton, Beatles...  Um prêmio ouvir Whyle my Guitar Gently Weeps.... Acompanha-o, nao menos antigos companheiros de estrada; todos excelentes músicos, nitidamente apaixonados pela profissão que abraçaram ou, literalmente, pelo negocio que "tocam"...
O show foi ao ar livre, ao pé de uma das muitas montanhas de Utah, em noite de verão. Pode ser que o desejo de um mundo melhor, esteja conduzindo-me a pieguice de declarar que, Frampton foi sincero ao olhar para a pequena multidão que se acomodou no gramado e, dizer que ali estavam sua família e seus amigos... Não sei... por um momento foi bom acreditar que sim e que "all of us, we came, one more time, alive".... Peter, please, keep yourself alive!

Nenhum comentário: