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sábado, 30 de abril de 2011

Damas e Cavalheiros…

Avolumam-se as queixas por conta da suposta falta de romantismo dos homens e, francamente, isso tem me causado inquietação e tristeza. Aparecem na forma de correntes de e-mails, em canções de Sir Elton John e Gretchen, boleros de Lindomar Castilho, insultos psicografados das Mamonas Assassinas, piadas infelizes, anotações em banheiros de padarias e, mesmo, em versinhos ruins, covardemente atribuídos a Shakespeare. Todos, sem exceção, clamam pela valorização da mulher...De há muito que se foram os cavalheiros; difícil negar o fato. Mas, ainda que os trouxéssemos de volta, onde estão as damas; para onde se foram estas? De certo, tomaram destinos diferentes e, agora, estão a buscar-se uns aos outros, chorosos pela perda de um tempo que não voltará, jamais...

Não há uma resposta fácil para uma pegunta difícil de formular. São vários os componentes que levaram a extinção das damas e seus cavalheiros. A ansiedade de sexo, os relacionamentos fugazes, a flexibilidade dos caracteres, os contatos virtuais, a ditadura das aparências; tudo isso e, muito mais, mataram e sepultaram um ritual a que os antigos autores românticos chamavam de "corte". Sim, houve  um tempo em que os homens, cortejavam as mulheres; as damas.Não assisti o casamento do príncipe inglês William, com Catherine Elizabeth Middleton e, exatamente por não ter assistido, gostei muito. Explico: Não assisto por medo de ver algum fato, uma gafe imperdoável, um grave deslize, que possa trincar essa pequena ilusão que, ainda, conservo. Tenho grande entusiasmo por cerimonias matrimoniais que envolvam a nobreza; príncipes e condessas, ainda que estes venham a se tornar reis sem nenhum poder político ou que, morram, anônimos, de preferência felizes para sempre, em algum castelo de frias e duras pedras, caçando raposas em algum lugar da Inglaterra. E, é justamente ai, na inofensividade politica, que esta o segredo do poder e da longevidade da monarquia inglesa e, seus casamentos monumentais com carruagens, damas e cavalheiros, que só sobrevivem em livros de Hans Christian Andersen e, no Reino Unido!Li que, a primeira frase que William, cavalheirescamente, dirigiu a sua dama foi: Você esta linda! Kate não precisou provar nenhum sapatinho de cristal, para tornar-se condessa, duquesa, baronesa e, todas essas honrarias nobiliárquicas que, cada vez mais, ficam reduzidas ao Império Britânico e aos livros de Contos de Fadas. Bastou ser dama... Talvez a última, com exceção as do baralho... Assistir a esses antigos e complicados ritos matrimôniais ingleses, deve ser o preço que teremos de pagar para manter viva uma encenação de um gesto bonito que, um dia, foi real. Um grito, estranho, primitivo e, incompreensível, a clamar pela volta do Amor, é tudo que restou no coração das Damas e Cavalheiros de outrora, hoje homens e mulheres inseridos em cruéis armaduras, a lutar por títulos, não mais de nobreza, mas dos mercados e, das bolsas, onde todos os valores se perdem...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Saudades sem fim...

Fala-se muito de saudades. Há um certo orgulho nacional por - dizem - ser a palavra intraduzivel. Meu conhecimento de idiomas é reduzido e, não ouso concordar ou discordar. Mais reduzida ainda, é a minha sensibilidade para arriscar dizer que, as saudades brasileiras sao melhores do que as australianas ou finlandesas ou, mesmo a dos portugueses, povo que sofre muito de saudades. Houve um tempo em que eu sentia muita saudades. Saudades de muitas coisas e, de algumas pessoas. Doses maciças de Realidade, sim; Realidade é o melhor remédio contra as dores das saudades, curaram-me desse "mal". Hoje, devo confessar que sinto falta de certas coisas. Sentir falta, não é ter saudades. Saudades, é puramente emocional. A falta que se sente de certas coisas, é racional e, para isso há remédio. A falta que se sente de alguém, não tem pausa e nem cura. A saudades de alguém, pode não ter cura mas, é intermitente. Uma certa presença, um certo lugar, ou ambos, são paliativos para uma saudades mas, nunca para uma ausência. Se você sofre de saudades e, se isto lhe incomoda, trate-se com Realidade. Mas, sublinho: Somente se lhe incomoda. Sim, porque há saudades das quais não queremos nos curar nunca. Conservamo-la e a cultivamos com desvelado cuidado. A essas, recomendo muita solidão e melancolia. Evite dias ensolarados, desses primaveris nos quais pássaros vagabundos e irresponsáveis trinam como se o mundo pudesse ser bom e, crianças alienadas brincam felizes sob o amoroso olhar de suas mães, nos parques das cidades. Entrincheire-se em um covil sombrio e mal-cheiroso, lendo poemas de despedida e perdas.Verá você que seu jardim de saudades irá florescer viçoso de causar inveja a qualquer poeta parnasiano. Agora, supondo-se que você queira se livrar de alguma renitente saudade, recomendo ao amigo e amiga que submeta-se a rigoroso tratamento com Realidade. É infalível. Um certo lugar? O mundo esta repleto de lugares belos e, pensando bem, aquele lugar não era tão bonito assim... Aquela pessoa? Pense nela em seus piores momentos. Tinha mau-hálito? Produzia ruídos? Não é possível que, miserável, não tivesse um defeito; um único que fosse. Pois bem; identifique-o e concentre-se nele. Um defeito, ainda que pequeno, só iria agravar-se ao longo do tempo... Viu do que se livrou você? Entretanto, se a perda é mesmo irreparável, que essas existem, console-se pensando que nada é para sempre; nem mesmo as perdas. Em algum lugar, desta vez belo e sem defeito algum, você irá reencontrar quem lhe faz tanta falta. Aquele companheiro de conversa inigualável regada a pinga velha e mansa, naquela antiga "vendinha" em meio a temporal brabo, na curva da estrada de terra que desaparece sem fim entre montanhas, até o grande e verdadeiro amor de sua vida, aquele que tinha o poder de lhe fazer acreditar que a vida é sempre bela, a Realidade lhe mostrará que estão todos a esperar por você, para sempre, como sempre foi, logo ali adiante, a pouco tempo de distancia...