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sábado, 22 de maio de 2010

Lembranças do Sol...

O frio da Primavera anda distraído e, o calor do Verão começa a tomar seu lugar. Apesar da luz antiga e bela irradiada pelo Sol, não me animo muito a sair de casa. Prefiro recordar verões distantes, sem data precisa, dos quais ficaram em mim as sensações de sons, cores e, algumas emoções avulsas. Chegar da escola, trocar o uniforme por "roupa de brincar" e ir prá rua ver se algum amigo estava lá esperando. Ou, outras vezes, passar na casa do amigo e perguntar se "...sua mãe deixa você brincar na rua...". Na pior das hipóteses, sentar no chão onde deveria haver a calçada e, ficar rabiscando um desenho qualquer com caco de telha ou, pedaço de tijolo a servir de giz... Formigas... Havia, as vezes, o som de um caminhão chacoalhando a carroçaria de madeira, o cheiro bom de gasolina queimada... Causava-me impressão o ronco da máquina "poderosa" e que, parecia ter vida própria em seu rugido a reclamar de íngreme subida ou ronronando severo em ladeira amiga... Mas, era verão e, quase sempre, o calor do sol conduzia a um estado letárgico irresistível. Sons distantes; latidos de cães, cantos de galos, cigarras, mulheres ralhando com moleques travessos ou chamando por filhos ausentes, gritos de amoladores de facas e tesouras, de ambulantes que consertavam panelas e guarda-chuvas, de compradores de metais e papelões, a rua pobre, o esgoto, a poeira, cães vadios e... o calor! A soma disso tudo, causava a tal letargia; modorra na qual o cérebro, comparo hoje, fica em stand-by assim como acontece com os computadores deixados inativos por longo tempo. Acontecia muito de deitar no chão e observar as nuvens, imensas, formando monstros ou animais. Havia, entretanto, dois sons capazes de ativar a mente sonolenta, com rapidez espantosa: Um deles, era: "Sorveteiro!". O outro, era: "Quer jogar?". Sim, haviam outros, tais como "Pi-ru-li-terooo", "Algodão doooce!", Quebra-queixo, pé-de-moleque... Buzinas e seus sons característico acompanhavam os gritos dos vendedores de algumas dessas guloseimas. O vendedor de quebra-queixo tinha um "artefato" semelhante a uma tábua de cozinheira ao qual estava anexada uma peça de metal parecida a uma alça de mala. Levava o tal instrumento junto a perna, na altura do joelho. Girava o punho com habilidade e, a batida da alça de metal contra a madeira, produzia som ritmado e característico. Até hoje sinto inveja e, talvez, um dia, eu vá vender quebra-queixo em algum lugar onde os meninos ainda possam brincar na rua... Um som, na verdade uma intimaçao, era considerado particularmente sinistro por muito dos meninos: "Entra pra dentro!". Era a mãe, sempre a interromper dura peleja, animado pega-pega ou, esconde-esconde. Um pouco mais tarde, iria, também, interromper as primeiras palpitações cardíacas causadas pelo suave calor da pele da amiguinha, nas brincadeiras de passa-anel, beijo-abraço-ou-aperto-de-mão, em noites de verão perfumadas a manacá...

Salomão, em sua imensa sabedoria, avisava nao haver nada de novo sob o sol.  Há sim, Mestre! Sempre haverá uma emoção nova escondida em lembrança que é  sua; unicamente sua, para sempre... 

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