Páginas

quarta-feira, 25 de maio de 2011

U-2 ... U-tah

Assisti, ontem a noite, a apresentação do U-2, aqui em Salt Lake City. Foi no estádio da Universidade de Utah. Alguém poderá estar a se perguntar "...que diabos faz o U-2 em SLC?". Não sei e, não tive a oportunidade perguntar a nenhum deles a razão pela qual dezenas de imensos caminhões percorreram milhas e milhas de estrada, para desembarcar as toneladas de estruturas de aço que compõem o cenário dessa turnê a que chamam de 360 graus. Além de informar que aqui, também, circula o dólar, direi somente que a Universidade de Utah teve dois ganhadores de Premio Nobel, sendo o mais recente em 2007 e, goza de grande respeito na área de Medicina. Foi fundada em 1850, 46 anos antes de Utah deixar de ser Território e, tornar-se um estado da federação americana. Não sei se Bono sabe dessas coisas e, por isso mesmo escolheu, pela 3a. vez, Salt Lake City para soltar sua inconfundível voz que, tanto canta, quanto protesta seu inconformismo com algumas das muitas coisas erradas que o U-2 anda a ver mundo afora e adentro.

O U-2 com seu idealista e carismático líder, forma uma curiosa entidade, talvez sem precedentes na historia de bandas musicais. Desde "Sunday Bloody Sunday", passando por "Daddy's Gonna Pay For Your Crashed Car", até "Beautiful Day", o U-2 criou e dominou largo espaço na política, na música e, nos costumes. Critica ditaduras mas, não se limita a escrever letras ácidas desancando regimes e líderes políticos dos quais não gosta mas, vai ao encontro destes e poem a boca - não diria no trombone - mas, no microfone. Bono já se queixou de que ganha dinheiro demais e, até com uma certa culpa, em seus shows vive a agradecer os fans presentes e ausentes, por terem proporcionado ao grupo a confortável vida que levam mas, não deixa de criticar os filhinhos-de-papai e, aos que reclamam da vida, sem razão, sempre que pode. Admiravelmente para estes tempos, é um conservador, assim como, em maior ou menor grau, os outros membros do grupo. Não usa drogas, não aparece fumando e, vive com a mesma mulher e a mesma família desde sempre. Religioso, boa parte das musicas que compôs, teve influência nas origens religiosas; pai católico e mãe anglicana. Até hoje, não tenho notícias de que Bono tenha investido, nem tempo e nem dinheiro, na causa "gay". Investe sim; furiosamente, contra a fome na Africa, a ausência de liberdade de toda sorte onde quer que esta falte, e na propagação dos nomes das pessoas as quais admira, tais como Mandela e Aung San Suu Kiy. E, é justamente este conservadorismo humanista "fora-de-moda", que proporciona a banda a credibilidade e o sucesso dos quais goza. É difícil em meio a imensa corrente liberal que hoje atropela a humanidade, resistir ao apelo de fazer sucesso fácil e imediato, defendendo causas "fashion" tais como os direitos civis de GLS, as virtudes da maconha, e o direito de ser feliz a qualquer custo. O U-2 navega contra a corrente e, recebe os aplausos dos passageiros da Nau da Insensatez que navega em direcao contrária, cujos passageiros tem vontade mas, não tem caráter, gana, disposição, para fazer a longa volta nesse oceano de enganos e retornar ao curso correto.

Não creio que o U-2 pretenda liderar a humanidade para qualquer direção que seja. Tudo indica que Bono é, simplesmente, um cristão convicto, um pouco assustado com a fortuna rápida e inesperada que amealhou. Procura fazer a parte que lhe toca como ser humano, participante que é deste imenso show que é a vida, onde poucos fazem e uma imensa maioria limita-se a aplaudir ou criticar. E, faz muito bem. Sócio-politica a parte, os caras fazem um som sideral e contagiante. Impossível, ainda que por um momento, não acreditar que a vida pode ser muito melhor, também, nas fronteiras além-mar das Américas e Zooropa...

Nenhum comentário: