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domingo, 2 de dezembro de 2012

Os Impostos da Morte


Na quinta-feira passada, em um desses tantos perigosos semáforos de São Paulo, um casal teve suas vidas paradas para sempre no vermelho, não da luz, mas do sangue que passou, agora, a circular no asfalto. A imagem dos corpos estirados na rua, acondicionados em sacos plásticos, era mais uma fotografia de como o Estado encara o cidadão ao qual deveria proteger: lixo, valor nenhum. A cada morte que passa nesse cortejo fúnebre que parece não ter fim; ao contrário, só faz aumentar, a vida torna-se, cada vez mais, artigo banal.
Os mortos nesse episódio, pertencem a família de uma pessoa conhecida. Pude testemunhar a dor externada nas palavras dessa pessoa, nunca suficientes para descrever o que realmente esta a acometer a família. Um misto de desespero, humilhação, impotência, prostração... Lista infindável de palavras não seria suficiente para descrever o matiz de cores negativas que permeiam os sentimentos de perda de entes queridos em circunstâncias tao absurdas. Para quem não soube da noticia, resumirei: Namorada da ao namorado motocicleta de mais R$ 50.000,00. No dia seguinte ao presente, saem para passear, param em um semáforo e, são abordados por dois assaltantes em uma outra motocicleta. Aparentemente, o casal tentou fugir. Baleado nas costas, o rapaz perde a direção e bate contra um carro. Os assaltantes param ao lado das vitimas e, disparam mais três tiros em cada um, matando-os.
Aqui, a acusação que faço: Segundo a polícia, a motocicleta era o objetivo dos assaltantes. O custo real dessa moto não ultrapassa, exagerando, R$ 30.000.00. A carga de impostos que eleva o valor de uma simples motocicleta a níveis absurdamente irreais, atiça a cobiça dos assaltantes, colocando em risco a vida dos cidadãos. Pessoas tem sido mortas simplesmente por causa de tênis de marcas fashion, relógios e, outras quinquilharias, cujos valores foram artificialmente aumentados por impostos canalhamente altos.
O Estado tem se mostrado de uma incompetência odiosa em sua tarefa de proteger o cidadão. Além de não defende-lo de criminosos, facilita a ação destes, desarmando e proibindo pessoas honestas de portarem armas. Também, paga mal aos policiais, obrigando estes a conviverem com bandidos de toda sorte em imundas favelas onde acabam fazendo parte de quadrilhas ou esquadrões da morte; tudo para poder complementar um salário miserável. Enfim, o Estado fica ao lado dos bandidos nessa guerra civil que consome centenas de vidas a cada mês na cidade de São Paulo (mais de 200 em novembro passado). Em uma trincheira estão malfeitores e policiais (honestos e corruptos); todos armados. Em trincheira nenhuma, exposto, fica o indefeso e desarmado cidadão que trabalha para sustentar a todos: bandidos, políticos e policiais; honestos e desonestos... Infeliz daquele que é assaltado, seja pelo fisco ou pelos bandidos, e nada tem a oferecer. Ironicamente, lembra a Caronte, personagem da bela mitologia grega, barqueiro que cobrava 6 dracmas para atravessar as almas no rio Styx. A família do morto, prudentemente, colocava as moedas na boca do falecido, para que Caronte não o abandonasse a vagar nas tristes margens do rio... A diferença em relação ao que acontece nos dias de hoje, está no fato de que Caronte, uma vez pago, fazia seu serviço. O Estado nos atira; abandona a morte, paguemos, ou não, os malditos impostos. Nunca foi tão verdade o ditado de que, para quem está vivo, só há duas certezas: impostos e morte....

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