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sábado, 5 de novembro de 2011

Estimando o cão!

É um belo e estranho planeta esse em que vivemos. Nunca pensei em ver gente ir para a cadeia, por conta de maltratar bicho. Isso é bom, pois afinal há muita gente a andar em 4 membros, e a arrastar-se por esse mundo. Sempre haverá pessoas que entendem ser errado tratar animais com o mesmo respeito dirigido a um ser humano. É assunto complexo, decidir se os bilhões gastos com ração, deveriam ser destinados aos famélicos da Somália. Rasamente direi: Há muito dinheiro gasto de maneira irresponsavel. Se formos falar em alocação de recursos, creio que os destinados aos animais não devem ser os primeiros a ser tocados... Bem antes na fila, estão as rubricas destinadas aos corruptos... Mas, voltemos aos animais.
Quando garoto, criei alguns bichos de estimação. Admito não lembrar se eu realmente os estimava. Sei que eram engraçados. Foram coelhos, cães, gatos, pássaros e, aves de briga. Sim; de briga mas, isso é uma outra história. Depois que comecei a participar da Confraria AA - Adultos Azedos - passei a ter ojeriza por animais domésticos, em geral. Não, não sou torturador de bichos, dissecador ou taxidermista. É que não gosto de animal que mora dentro de casa e, pula em mim, lambe, cheira com focinho gelado... Creio poder explicar melhor; de antemão agradecendo a paciência por parte do caridoso que está a ler. É como segue: As casas antigas, tinham espaço para bichos e gentes, nessa ordem. Acomodavam desde legiões de pulgas em velhos soalhos (alguns, foram pioneiros da modalidade "soalhos flutuantes", tanta era a infestação...), passando por Ratos de Porões em forros de madeira, até gatos e cães em varandas e quintais. E, ai está o bem que tinham as velhas casas: varandas e, principalmente, quintais. Eram nestes que as crianças tinham seus bichinhos, fossem êles de estimação ou de "judiação".Esta última palavra, utilizo com cirúrgico cuidado, não ensejando a mesma, nada mais que, a intenção de reproduzir a coloquialidade de uma era que esta a se extinguir... Lá, havia a "casinha do cachorro", o galinheiro, a "casinha do coelho-da-índia", a "casinha da lebre" a qual, genericamente, classificávamos como "coelho". Se algum bicho entrasse dentro de casa, era sumariamente expulso para o quintal com compreensível exceção feita as pulgas, sempre teimosas. Havia certa tolerância para com gatos junto ao fogão. Eram tempos difíceis e, muitas vezes, estes bravos felinos voluntariavam ser parte do cardápio. As gaiolas ficavam na varanda e, era um ritual infalível, ao anoitecer, removê-las para dentro de algum lugar fechado, cobri-las e, pela manhã levá-las de volta e pendurá-las na parede de velho reboque, que se esfarelava diante de um, simples, mal-humorado olhar... Por falar em olhar, era muito comum atar fitinha vermelha as gaiolas para evitar "quebranto", "mau-olhar", "inveja", e outros sortilégios que, se verdadeiros, fariam grande estrago em Brasília, trazendo enorme benefício ao povo. Mas, já que estamos a falar de animais; "...praga de urubú magro, não pega em cavalo gordo", perdendo a verdade o velho adágio, caso inverta-se a ordem dos animais nele invocados, de sorte que Brasília continuará impune, enquanto que o nanico cidadão está solto aos urubús. Muitos de meus amigos de infância, tinham outros animais em casa, tais como equinos, suínos, e aves maiores; patos, perus e assemelhados. Com o passar dos anos, eu crescí e, os quintais diminuíram; desapareceram. Foi assim que extinguiram-se muitos animais domésticos; extinção essa que nunca foi objeto de protesto de nenhuma entidade civil, religiosa ou, mesmo, militar, tratando-se do Brasil, um pais tão marcial. Humilde e obscuramente, esse blog, em primeira mão, denuncia o desaparecimento do coelhinho-da-índia de quintal, do galo-caipira de quintal, do coelho-de-quintal e, da pulga-de-soalho... Tenho testemunhas: desde minha adolescência, passei a libertar de gaiolas, todo passarinho que eu encontrasse preso. Soltei muita avezinha, cujo desaparecimento, até hoje é classificado como "inexplicável" pelo frustrado dono, que jura ter colocado a gaiola com a porta virada contra a parede. Meu maior feito foi, em uma chácara de um amigo, soltar toda uma passarada que estava presa nessas gaiolas construídas ao rés do chão... Foram, com certeza, dúzias de pássaros. Nunca comoveu-me o argumento de que, em liberdade, morreriam. A estes respondo: Também, um dia, morreriam presos... A História ensina que Patrick Henry disse "Give me Liberty, or give me death!". Não duvido que Patrick tenha dito isso mas, arrisco que deve ter roubado a frase de um pássaro engaiolado; provavelmente um tucano.

Jamais atingirei o nível de consciência necessário para fundar uma ONG e, defender urso polar, macaco-prego, ministro ladrão ou mico-leão. Entretanto, tenho uma certeza: A degradação da natureza humana é assustadora e não há ONG que possa mudar o rumo que nos leva a desatinado futuro. Qualidades inerentes a espécie como compaixão e fraternidade, estão a desaparecer da face da Terra a uma velocidade maior do que a devastação da floresta amazônica, vítima de queimadas e vaqueiros. Não vou lembrar da criança chinesa, atropelada duas vezes, enquanto 18 pessoas passaram por ela e, desviaram sem prestar socorro. Não vou falar de pai que joga filho pela janela de alto edifício. Não vou falar de psicopata que abusa de criança, mata e retalha o pequeno corpo destruído, depois de aterrorizá-lo até a alma. Tudo isso, em diferentes lugares desse Planeta Terra. Então, repito; não é certo desviar recursos destinados a dar existência digna aos animais. Mas, talvez, seja certo desviar nossa atenção para assuntos que estão a ameaçar a nossa própria espécie e, por tabela, todas as outras.

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