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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

La Vecchia Signora

Visitei, recentemente, a Itália, mais exatamente, o norte da Itália; as regiões da Toscana e do Veneto. Tentar explicar o resultado de uma mescla que inclui uma arquitetura secular com um cenário natural deslumbrante, é responsabilidade da qual declino, preferindo, simplesmente, contar o que vi, a quem possa interessar meu deslumbre diante dos encantos de La Vechia Signora.
Pessoas conduzindo a cotidiana vida dentro de cidades muradas, andando por vielas que parecem mais antigas do que as pedras que as calçam, entrando e saindo por enormes e sisudas portas de madeira em edifícios construídos um ao lado do outro, sem intervalos, sem sol e sem lua, induz a conclusão de que tudo aquilo tem sido assim, desde tempos sem memoria...  As muralhas que cercam as velhas cidades, parece que as defenderam não somente do ataque de invasores mas, também, da ruína dos seculos passados e por vir, contra o que desenvolveram misteriosa imunidade.
Contrariando a dura frieza de suas muralhas, torres e vielas de pedra, há uma impar delicadeza nos arcos das entradas, janelas e passagens destas estranhas cidades. Suas igrejas, inúmeras e grandiosas, ostentam delicados detalhes nos contornos que adornam suas fachadas e paredes. A fina flor dos artistas florentinos, pacientemente, pintou nos tetos dos templos, a via tortuosa que conduz aos céus ou aos infernos. Apesar de tudo, acho que viveram melhores tempos, já que as modalidades pecaminosas sofreram extraordinário desenvolvimento até nossos dias. Tivesse, hoje, Giotto  recebido a incumbência de retratar as tortuosidades que levam o homem ao Paraíso ou a Hades e, os tetos da galeria Vittorio seriam insuficientes... Ai esta a razão pela qual hoje pixamos e grafitamos todos os muros de todas as cidades do mundo, a retratar os Infernos...
As muralhas não tinham somente a missão de proteger. Cercavam, juntos, gladiadores e leões... De maneira justa, o Tempo também preservou o testemunho da existência de corações, tao ou mais duros, do que o granito dos altares e túmulos, na presença ainda atemorizante das grandes Arenas... Comparada a estas, a pequenina varanda de Giulieta só ganha importância na genialidade de Shakespeare. De outro modo, não passaria de pequeno gueto, hoje pixado por pequenos vândalos, cujas demonstraçoes de amor - para desgosto de Romeo, sua amada e grande idílio - cabem em um tijolo rabiscado com letra ruim e ininteligível, nas paredes de onde, um dia, reza a lenda, viveram os Capuletis. O par, simbolo de amor em sua mais profunda demostração; a morte, recebeu merecido desagravo da industria automotiva italiana, na forma das "machinas" Alfa Romeo Giulia... 
Se, as "machinas" italianas sao inegável demostração da genialidade mecânica lombarda, em contraste, a forma como a maior parte dos italianos dirige, ao menos nas regiões que visitei, é manifestação pura de falta de educação e, diria mesmo, neurose em ultimo grau. Eu sei; é preciso cuidado com as afirmações, principalmente as generalizantes. Entretanto, depois de dirigir por mais de 3.000km por vias e auto-estradas, penso ter o direito de dizer que o tráfico paulista fica a dever a loucura italiana. São ruas pequenas, sem acostamento e, sem calçada, transformadas em rodovias, a ligar as comunes. Salvo no coração destas, a velocidade minima para não ter um maluco dentro de seu porta-malas, tem de ser de, no minimo 90km/hora, em uma viela que mal suportaria 50km/h... Devo ser honesto e dizer que, por incrivel que pareça, nao presenciei nenhum acidente. Devem ser neuróticos mas, excelentes motoristas...
Há uma lenda que diz serem os italianos mal educados no tratamento que dispensam aos turistas. Não encontrei nenhum. Não sou nenhum lorde britânico mas, creio eu que, aquelas tais palavrinhas mágicas que a vovó ensinava, nao foram esquecidas pelos italianos que, as exigem de quem a eles se dirige. Soma a isso, ainda que simples gesto de boa vontade de minha parte, a tentativa (inútil) de falar em italiano... Eles lhe darão o crédito e retribuirão com cortesia insuspeita...
Meu amigo Caetano contou-me que seu pai lhe dava o bom aviso de que a Itália é um dos "jardins do mundo". Tem toda razão. Ao que vi, ao que dizem, ao que silenciam, posso afirmar que a Itália é, de fato, linda... As vezes, dolorosamente linda no testemunho de seus cemitérios e monumentos aos que tombaram, em tantas guerras, nas inúmeras tentativa inimigas de roubarem para si a Bella Itália... Ciao

sábado, 5 de novembro de 2011

Estimando o cão!

É um belo e estranho planeta esse em que vivemos. Nunca pensei em ver gente ir para a cadeia, por conta de maltratar bicho. Isso é bom, pois afinal há muita gente a andar em 4 membros, e a arrastar-se por esse mundo. Sempre haverá pessoas que entendem ser errado tratar animais com o mesmo respeito dirigido a um ser humano. É assunto complexo, decidir se os bilhões gastos com ração, deveriam ser destinados aos famélicos da Somália. Rasamente direi: Há muito dinheiro gasto de maneira irresponsavel. Se formos falar em alocação de recursos, creio que os destinados aos animais não devem ser os primeiros a ser tocados... Bem antes na fila, estão as rubricas destinadas aos corruptos... Mas, voltemos aos animais.
Quando garoto, criei alguns bichos de estimação. Admito não lembrar se eu realmente os estimava. Sei que eram engraçados. Foram coelhos, cães, gatos, pássaros e, aves de briga. Sim; de briga mas, isso é uma outra história. Depois que comecei a participar da Confraria AA - Adultos Azedos - passei a ter ojeriza por animais domésticos, em geral. Não, não sou torturador de bichos, dissecador ou taxidermista. É que não gosto de animal que mora dentro de casa e, pula em mim, lambe, cheira com focinho gelado... Creio poder explicar melhor; de antemão agradecendo a paciência por parte do caridoso que está a ler. É como segue: As casas antigas, tinham espaço para bichos e gentes, nessa ordem. Acomodavam desde legiões de pulgas em velhos soalhos (alguns, foram pioneiros da modalidade "soalhos flutuantes", tanta era a infestação...), passando por Ratos de Porões em forros de madeira, até gatos e cães em varandas e quintais. E, ai está o bem que tinham as velhas casas: varandas e, principalmente, quintais. Eram nestes que as crianças tinham seus bichinhos, fossem êles de estimação ou de "judiação".Esta última palavra, utilizo com cirúrgico cuidado, não ensejando a mesma, nada mais que, a intenção de reproduzir a coloquialidade de uma era que esta a se extinguir... Lá, havia a "casinha do cachorro", o galinheiro, a "casinha do coelho-da-índia", a "casinha da lebre" a qual, genericamente, classificávamos como "coelho". Se algum bicho entrasse dentro de casa, era sumariamente expulso para o quintal com compreensível exceção feita as pulgas, sempre teimosas. Havia certa tolerância para com gatos junto ao fogão. Eram tempos difíceis e, muitas vezes, estes bravos felinos voluntariavam ser parte do cardápio. As gaiolas ficavam na varanda e, era um ritual infalível, ao anoitecer, removê-las para dentro de algum lugar fechado, cobri-las e, pela manhã levá-las de volta e pendurá-las na parede de velho reboque, que se esfarelava diante de um, simples, mal-humorado olhar... Por falar em olhar, era muito comum atar fitinha vermelha as gaiolas para evitar "quebranto", "mau-olhar", "inveja", e outros sortilégios que, se verdadeiros, fariam grande estrago em Brasília, trazendo enorme benefício ao povo. Mas, já que estamos a falar de animais; "...praga de urubú magro, não pega em cavalo gordo", perdendo a verdade o velho adágio, caso inverta-se a ordem dos animais nele invocados, de sorte que Brasília continuará impune, enquanto que o nanico cidadão está solto aos urubús. Muitos de meus amigos de infância, tinham outros animais em casa, tais como equinos, suínos, e aves maiores; patos, perus e assemelhados. Com o passar dos anos, eu crescí e, os quintais diminuíram; desapareceram. Foi assim que extinguiram-se muitos animais domésticos; extinção essa que nunca foi objeto de protesto de nenhuma entidade civil, religiosa ou, mesmo, militar, tratando-se do Brasil, um pais tão marcial. Humilde e obscuramente, esse blog, em primeira mão, denuncia o desaparecimento do coelhinho-da-índia de quintal, do galo-caipira de quintal, do coelho-de-quintal e, da pulga-de-soalho... Tenho testemunhas: desde minha adolescência, passei a libertar de gaiolas, todo passarinho que eu encontrasse preso. Soltei muita avezinha, cujo desaparecimento, até hoje é classificado como "inexplicável" pelo frustrado dono, que jura ter colocado a gaiola com a porta virada contra a parede. Meu maior feito foi, em uma chácara de um amigo, soltar toda uma passarada que estava presa nessas gaiolas construídas ao rés do chão... Foram, com certeza, dúzias de pássaros. Nunca comoveu-me o argumento de que, em liberdade, morreriam. A estes respondo: Também, um dia, morreriam presos... A História ensina que Patrick Henry disse "Give me Liberty, or give me death!". Não duvido que Patrick tenha dito isso mas, arrisco que deve ter roubado a frase de um pássaro engaiolado; provavelmente um tucano.

Jamais atingirei o nível de consciência necessário para fundar uma ONG e, defender urso polar, macaco-prego, ministro ladrão ou mico-leão. Entretanto, tenho uma certeza: A degradação da natureza humana é assustadora e não há ONG que possa mudar o rumo que nos leva a desatinado futuro. Qualidades inerentes a espécie como compaixão e fraternidade, estão a desaparecer da face da Terra a uma velocidade maior do que a devastação da floresta amazônica, vítima de queimadas e vaqueiros. Não vou lembrar da criança chinesa, atropelada duas vezes, enquanto 18 pessoas passaram por ela e, desviaram sem prestar socorro. Não vou falar de pai que joga filho pela janela de alto edifício. Não vou falar de psicopata que abusa de criança, mata e retalha o pequeno corpo destruído, depois de aterrorizá-lo até a alma. Tudo isso, em diferentes lugares desse Planeta Terra. Então, repito; não é certo desviar recursos destinados a dar existência digna aos animais. Mas, talvez, seja certo desviar nossa atenção para assuntos que estão a ameaçar a nossa própria espécie e, por tabela, todas as outras.

A Duquesa de Alba e o Plebeu de todos Nós


É verdade que a crise financeira pela qual passa a Europa, não poupou a Espanha. Ao contrário; veio para somar a, já então, longa lista de atribulações espanholas: alta taxa de desemprego, o fotoshop a copiar Velasquez quase a perfeição, redes de prostituições brasileiras, toureiros chifrados, mercado imobiliário em decadência, moinhos de vento, a Catalunha sempre rebelde, Messi, que fala espanhol mas, nasceu na Argentina e, outra injustiças divinas... E, foi em meio a todo esses desacertos que floresceu o amor outonal entre a Duquesa de Alba e Alfonso Díez Carabantes. Como era de esperar-se, graves suspeitas foram levantadas quanto a genuidade do amor de Carabantes pela Duquesa. Melhor assim; houvesse silencio e, este seria hipócrita. Afinal, Cayetana carrega 85 primaveras em seu currículo. Carabantes, embora não seja um Jesus Luz, tem toda a justa esperança de por aqui permanecer um pouco mais... Esta sólido em seus 60 anos e, exibe firmeza, ao menos nas fotos do matrimônio. Pacificando as línguas ferinas, previamente, a fortuna da noiva foi devidamente inventariada entre os herdeiros. Carabantes, discreto barnabé, nunca se casou e, não tem descendentes. Pá de cal sobre a pouca fé dos maldosos na imunidade do amor aos poderes vis do dinheiro, Afonso renunciou formalmente a qualquer parte no butim da Duquesa. Vindo do seio de modesta e laboriosa família espanhola, conheceu sua consorte na loja de antiguidades da mãe, largos 30 anos atrás. Reencontrou-a quando esta saia e, ele adentrava a uma sala de cinema. Afonso, sempre atrasado... Desde então, a amizade só fez crescer, culminando com a formal união, necessária para atender as convicções católicas de Doña María Del Rosário Cayetana Fitz-James Stuart y Silva. Se por um lado a frugalidade nos nomes dados a Afonso Diez Carabantes é reveladora da opaca vida de um profissional da previdência privada, por outro lado o quilométrico nome da duquesa revela não somente a movimentada vida de quem o carrega mas, também o de seus antepassados. Lá estão a nobreza espanhola, inglesa e francesa a misturar glórias e derrotas, virtudes e vergonhas por séculos passados e por vir...
O que lá vai no coração do plebeu e da nobre senhora, são segredos inescrutáveis que, talvez, nem eles próprios saibam. Pode ser que tudo não passe de uma simples manobra de vaidades e ambições. Pode ser mais uma traquinagem da vida a zombar dessa mania de querermos entender tudo que acontece a nossa volta. De verdade, só quem avançou por anos a fio nesta vida, é capaz de compreender que o novo sempre virá, mesmo dentro de corpos e corações envelhecidos... Vida longa ao casal!

Sapatinhos de cristal...

Fazia tempo que não me sentava para assistir um bom filme. Ontem, em família, assisti Cinderella, a qual, por ser bem criado, passarei a referir pelo seu verdadeiro nome; Ella. Acho uma maldade que vence, deixar que prevaleça o apelido que lhe deram, as maldosas irmãs... Ella prega incansavelmente a importância que tem a atitude de manter-se fiel a seus sonhos e objetivos. É o mantra de sua escrava vida, no que tem toda razão. Ainda que tardiamente, chamou-me a atenção o fato de os sapatinhos de cristal, dados a Ella pela magia da atrapalhada fada madrinha, não terem desaparecido juntamente com o vestido, a carruagem e, todos os outros aparatos de sonho com hora marcada para terminar; meia-noite. Sou uma pessoa simples, de pensamentos simples; gosto sempre de lembrar isto, tanto as pessoas que me dedicam estima, quanto aos meus detratores. Daí, ter ido eu dormir com essa dúvida aguda, a incomodar meu sono... Porque, digam-me lá sábios da Macedônia, da Pérsia ou do Gandois; porque os sapatinhos de cristal dados a Ella, sobreviveram a fatídica passagem da meia-noite? Teria sido uma simples falha dos roteiristas da Disney? Seria o príncipe um podólatra? Não, não pode ser. Nossos contos tão infantis, precisam resistir a essa devastadora onda devassa que, qual a tsunami asiático, tem varrido para fossas abissais nossos antigos e delicados sonhos de cristal...sonhos de noites de Verão, Outono, Primavera, Inverno e outras estações. Ultimamente, os sonhos só tem tido vez nas estações de TV...
Mas, voltemos a Ella e seus pezinhos em cristais... Tenho tendência a acomodar, a procurar solução e, se essa não estiver ao alcance, ao menos equacionar os problemas que a vida, a todos nós, traz. Negociei comigo mesmo, a idéia de que Ella tinha um sonho em sua moça cabecinha; ir ao baile do príncipe. Entretanto, nenhum sonho vai a nenhum lugar, se não tiver pezinhos que o carreguem. Os sapatinhos de cristal seriam a simbólica mensagem de que, todo sonho é concretizado na dura realidade do chão desta velha Terra. Por isso, só eles sobrevivem ao final do sonho; ao sinistro badalar da meia-noite de nossas vidas. Entretanto, é essencial lembrar que tudo começa com um sonho. Sonhe, sempre. A cabeça nas nuvens, mantendo os pés no chão, pois é nele que, mesmo mágicos sapatinhos de cristal irão se firmar, dando vida concreta ao sonho que alguém, solitário, quis dividir com todos...