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sexta-feira, 19 de março de 2010

O Pixe

Cai mais um acordo de paz neste mundo já tão sem sossego. Não falo do Oriente Médio mas, sim, da cidade de São Paulo, aquela da qual tenho imensa saudade e que, desapareceu para sempre, vítima de uma horda de bárbaros que só faz crescer, em número e violência. Por favor, poupem-me do clichê de que “...cidade grande é assim mesmo”. Não tenho pelas outras cidades grandes, o mesmo interesse que tenho por São Paulo; a minha São Paulo. A única ressalva para a qual peço licença, é Cachoeiro do Itapemirim, a maior cidade do meu coração. Também, esta desapareceu para sempre, soterrada sob construções sem nenhuma graça ou beleza, erigidas pela miséria, essa grande arquiteta da maioria das cidades brasileiras.

Mas, voltemos ao rompido acordo de paz. Informa a Folha que “Um grupo de pichadores atacou, no começo desta madrugada, o painel de grafite de 680 metros na alça de acesso da 23 de Maio ao elevado Costa e Silva, na Bela Vista. O local exibe trabalhos da famosa dupla osgemeos, entre outros expoentes da street art. O mesmo trecho já havia sido atingido por agentes da prefeitura em 2008 --à época, os funcionários municipais cobriram as obras com tinta cinza por avaliar que o local era alvo de vandalismo.” 

Sempre achei bonito, elegante, o acordo tácito entre as gangs de pichadores e o pessoal da street art. Em tempos tão desonrados, esse acordo baseado no “fio-do-bigode”, ao menos para mim, tinha uma beleza de tons cavalheirescos. Em meio ao desalento que me tomava a alma ao ver o emaranhado de pichações, emocionava-me o cuidado tomado pelos pichadores em não borrar os grafites, ao desferirem seus golpes de feiúra e desolação sobre paredes, muros e, colunas de viadutos, da indefesa cidade. Alguns, arriscam a miserável vida, escalando alturas e lugares impossíveis. Infelizmente, na maioria das vezes, saem ilesos. Que não me ouçam mas, estou esperando o dia no qual a cidade passara a ter o piso das ruas e calçadas, coberto com pichações... Que os funcionários municipais tenham sido os primeiros a atacarem os grafites, vá lá. Nunca esperei que gangs, de certo modo co-irmãs, viessem a depredar estes modestos patrimônios da cidade... Pobre São Paulo!

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